"O Dia Depois" (2017) dirigido pelo prolífico Hong Sang-soo (Hahaha - 2010, Na Praia à Noite Sozinha - 2017) segue a mesma fórmula de seus outros filmes, em tom pessoal e intimista, cenas com longos planos fixos em que personagens sentados à mesa bebem e conversam. Retrata momentos cotidianos, mas extraem deles reflexões profundas sobre a vida de modo simples e com uma boa dose de humor. Acompanhamos ao longo de um dia relações instáveis, as consequências de se entregar ao desejo, conflitos e hipocrisias.
É o primeiro dia de Areum (Kim Min Hee) em uma pequena editora. Bongwan (Hae-hyo Kwon), seu chefe, terminou há pouco tempo o relacionamento que mantinha com a funcionária (Kim Sae-byeok) que trabalhava ali anteriormente. Ainda nesse mesmo dia, Bongwan, que é casado, sai de casa na manhã escura e parte para o trabalho. Sua esposa (Jo Yoon-hee) encontra um bilhete de amor, explode em fúria no escritório e acaba confundindo Areum com a mulher que ele deixou.
É o primeiro dia de Areum (Kim Min Hee) em uma pequena editora. Bongwan (Hae-hyo Kwon), seu chefe, terminou há pouco tempo o relacionamento que mantinha com a funcionária (Kim Sae-byeok) que trabalhava ali anteriormente. Ainda nesse mesmo dia, Bongwan, que é casado, sai de casa na manhã escura e parte para o trabalho. Sua esposa (Jo Yoon-hee) encontra um bilhete de amor, explode em fúria no escritório e acaba confundindo Areum com a mulher que ele deixou.
A estética do filme chama a atenção, um preto e branco luminoso, o clima lembra muito os filmes da Nouvelle Vague, os longos diálogos, a câmera fixa que de repente dá um zoom no rosto de algum personagem e as situações cotidianas. Bongwan vive um dilema, tem uma amante, sua ex-funcionária, mas não quer terminar seu casamento, a cena inicial em que a mulher o questiona sobre ele ter um caso enquanto come e nada fala já nos fisga para a história, ele não está mais com a amante, mas mesmo assim sai para o trabalho de madrugada, o que irrita e deixa a sua esposa desconfiada, nesse mesmo dia Areum é contratada e não esconde sua admiração pelo chefe, os dois almoçam juntos e dissertam sobre algumas coisas, mas Areum não espera que esse seu primeiro dia seja também o último, pois além de ser agredida pela esposa de Bongwan ao ser confundida com a amante, também precisa lidar com os sentimentos instáveis dele, principalmente quando aparece sua ex-funcionária. A trama é toda fragmentada e por conta disso podemos visualizar muito bem o comportamento de Bongwan que oscila em seus sentimentos e decisões, por exemplo, na cena em que Areum é agredida e quer sair da editora e ele pede para que fique e logo que a amante chega desfaz o que disse. O tom cômico está bastante presente, diversas situações constrangedoras, e a música que toca insistentemente em momentos sérios torna tudo ainda mais risível.
A narrativa fragmentada nos permite observar por vários ângulos a história e em muitos momentos a câmera foca no ouvinte e não em quem fala, nos fazendo imaginar a perspectiva que cada um tem da conversa. Bongwan não consegue se decidir, sofre com o peso de trair sua esposa, mas se acovarda diante da hipótese de terminar, se entrega ao desejo, mas não assume nada, e Areum sofre por esse comportamento volátil do chefe, mesmo o admirando como profissional. O diálogo entre os dois na mesa de um restaurante é uma das melhores cenas, eles falam sobre a existência, por vezes passando pelo niilismo, mas Areum contesta seus pensamentos com um brilho próprio.
"O Dia Depois" marca por seus diálogos naturais intercalados por pausas reflexivas, discute-se os conflitos existenciais, a inconsistência e a fragilidade dos sentimentos e relações, a hipocrisia e o vazio, tudo desenvolvido com sutileza, pontuado por um tom cômico e permeado por uma aura melancólica belíssima.
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