"Nocturama" (2016) dirigido por Bertrand Bonello (Tirésia - 2003, Saint Laurent - 2014) é um filme que toca num assunto atual e polêmico, a pseudo-conscientização, onde falta conhecimento e sobra ímpeto. Uma história tensa apesar de caminhar lentamente e que fisga por sua bela fotografia, cenários magnificentes em longos planos panorâmicos, e claro, a reflexão sobre a contradição que permeia os ideais dos jovens, a banalização dos movimentos políticos e o quão isso vem afetando cada vez mais o mundo. Paris tem sido alvo constante do terrorismo, e por isso se torna ainda mais atrativo, passamos o filme todo tentando encontrar respostas para os atos, mas só enxergamos um anarquismo sem propósito. Dentro deste tema, jovens contra o consumismo, há um brilhante filme alemão, "Edukators", que disserta melhor sobre.
Em Paris, um grupo de jovens de diversas origens se organiza para planejar uma série de atentados terroristas. Quando todas as bombas explodem e a cidade se transforma num caos, eles se escondem num centro comercial durante a madrugada. Enquanto esperam o tempo passar, pensam sobre as possíveis consequências de seus atos e sobre eventuais falhas capazes de comprometer o plano. O filme propõe uma perspectiva diferenciada, sem estigmatizações, os jovens são de diferentes origens, mas todos bem vestidos, apreciadores de música eletrônica e que inspirados pela revolução francesa arquitetam um plano e implantam bombas em prédios importantes e estátuas, como o palácio do Ministério do Interior, a Global Tower no centro financeiro, a estátua de Joana D’Arc, entre outros. Acompanhamos cada passo e sentimos a ansiedade e tensão juntamente a eles, quando tudo explode se escondem em um shopping center, lá ao invés de acompanharem as notícias, estão mais interessados em matar o tédio e assim usufruem do bom e do melhor, trocam de roupas, inclusive encontrando seus clones em manequins, ou seja, o local que é um antro de consumo foi deixado ileso e tido como um esconderijo seguro, nesta parte é impressionante analisar que independente de ideais o ser humano se sente confortável e amparado nestes locais de consumo, e o mais bizarro é que são imunes e parecem não pertencer aos símbolos de poder que esses jovens destruíram. As consequências é o que menos importa, o número de mortos e as notícias que passam na TV são julgadas falsas por eles, preferem se alienar ouvindo música e pegando o que lhes interessa das lojas. Há inúmeros simbolismos espalhados e o paradoxo é gritante.
Chega um momento que o medo se instaura, a polícia vai para matar e eles sabem disso, não há como se esconder ou se redimir, os instantes finais angustiam pela crueza, os olhos dos personagens arregalados, movimentos estressados, desmantela-se a imagem do início, jovens seguros de sua ideia de revolta, da violência como protesto, da rebeldia contra o sistema, e terminam como jovens inseguros, medrosos, inconstantes e vazios de seus princípios, contaminados por um espírito revolucionário mentiroso e banal.
"Nocturama" é uma obra bem estruturada, o terrorismo ganha um tom enigmático e impactante, uma perspectiva assombrosa dos nossos tempos e inteligente ao desmanchar estereótipos e motivações.
O tema é atual e o filme parece interessante.
ResponderExcluirA discussão sobre capitalismo e ideologia funciona muito bem em "The Edukators", que mostra os dois lados da moeda.
Abraço