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quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Ma' Rosa

"Ma' Rosa" (2016) dirigido por Brillante Mendoza (Lola - 2009, Vosso Ventre - 2012) assume um tom documental, câmera na mão, ágil, nervosa, acompanhamos a história de Rosa, suas interações, controlando tudo ao redor, comprando comida, cobrando dívidas e gerenciando seu pequeno comércio que esconde a venda de drogas, uma vida de pobreza tão semelhante a tantos outros lugares do mundo. É um retrato inquietante e cada vez mais corriqueiro, o tráfico de drogas de pequeno porte e a corrupção da polícia que abusa dessas pessoas. 
Em Manila, cidade que é a capital da República das Filipinas, vivem Rosa, Nestor e seus três filhos. Eles possuem uma pequena mercearia, um negócio familiar no qual trabalham. No entanto, a aparentemente calma rotina da família e do estabelecimento comercial é apenas uma fachada para que Rosa e Nestor possam vender metanfetamina. Certa noite, a polícia chega no local com o objetivo de acabar com a operação criminosa e prender Rosa e Nestor.
Filmado durante a estação de chuvas, o clima abafado dá o tom de sufocamento diante aos acontecimentos, quando Rosa e Nestor são presos as atitudes cada vez mais absurdas dos policiais vai nos dando enjoo, o crime de tráfico de drogas tem pena grave nas Filipinas, por isso a prática de extorsão é muito comum, mas em nenhum momento julga-se, afinal é uma escala hierárquica abusiva, ao analisar o caso pedem um valor da fiança/propina, e é aí que entra os filhos de Rosa para tentar juntar esse dinheiro pedindo a familiares e amigos, essa saga deles é retratada com muito realismo e vários sentimentos surgem, como desespero, humilhação, esperança, em meio a tanta coisa ruim acontecendo eles têm a união e o amor por tudo o que a mãe representa, uma matriarca forte e zelosa. 
O longa apresenta uma história dura que expõe as mazelas da sociedade, a pobreza, o tráfico de drogas, a corrupção policial, tudo envolto por um realismo nervoso, por mais que o desenrolar tenha algo de moroso é impossível não se envolver, a montagem é ótima ao sempre estabelecer um clima tenso, também há momentos de humor que revela o jeito como os policiais agem, são longos planos dentro da delegacia, enquanto analisam o caso e pedem para que Rosa denuncie seu fornecedor, bebem e comem à custa do dinheiro de propina, uma imagem aparentemente estereotipada, mas, que infelizmente, sabemos que é assim mesmo, outro ponto é a sutileza, que se encaixa dentro dos acontecimentos e vão denunciando todo o caos.

Não é difícil se apegar a figura de Rosa, uma mulher que busca o sustento de casa com muito suor, pensa nos seus filhos, nas dívidas e diante disso tenta vencer a pobreza com a venda de drogas, uma situação comum em muitos lugares do mundo e por isso soa tão familiar. É um filme que angustia por vermos a polícia tirando ainda mais do pobre, Rosa não é um "peixe grande", como dizem, assim como seu fornecedor, mas perante a possibilidade de ganhar um a mais e por conta também da lei do país, agem na encolha e fazem este tipo de negociação, me dá tanto e tá livre. Os filhos de Rosa agem em conjunto demonstrando gratidão, e é bonito ver que por mais sofrimento que estão passando e irão passar para pagar depois todos que ajudaram há uma perspectiva de "vamos em frente".

"Ma' Rosa" é um alerta, Brillante Mendoza traça um retrato honesto e enervante de seu país, mas que conversa com qualquer outra parte pobre do mundo, filme forte, crítico e real. Destaque para a maravilhosa atuação de Jacklyn Jose como Rosa, sua postura e olhar transpassa a tela e nos atinge em cheio, especialmente, na cena final. 

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

The Square

"O Quadrado é um santuário de confiança e cuidado. Dentro dele, todos compartilhamos direitos e obrigações iguais."

"The Square" (2017) dirigido por Ruben Östlund (Força Maior - 2014) é um filme que expõe uma perspectiva crítica à elite cultural europeia, em especial, a sueca, e disserta o como a arte vem sido repelida ao invés de provocar curiosidade, questões como os limites e o vazio das obras, há uma crise dentro desse universo e mesmo que a história gire em torno da sociedade europeia, percebemos que o sentido da arte contemporânea anda sendo questionado no mundo todo, além disso coloca em ênfase a contradição, enquanto uma obra em exposição sugere solidariedade, colaboração e empatia, os atos são completamente opostos, onde retrata uma população solitária, vazia e sem qualquer traço de cuidado com o outro. A medida que o filme avança vamos somando itens e refletindo sobre eles, a cada cena sugere-se mais de um significado.
Christian (Claes Bang), curador de um museu está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação. Entre as tentativas para isso, ele decide contratar uma empresa de relações públicas para fazer barulho em torno do assunto na mídia em geral. Mas, inesperadamente, isso acaba gerando diversas consequências infelizes e um grande embaraço. As situações vão se costurando, enquanto está rolando a polêmica divulgação da nova obra, Christian está interessado mais em recuperar seus pertences roubados, o que demonstra todo o seu egoísmo e seu ar de superioridade, as discussões morais que se sucedem revelam o absurdo e a todo instante ele é confrontado pelos valores que defende. Há uma gama de assuntos permeados por um humor desconfortável, pois revela a hipocrisia do politicamente correto, onde pregam o amor e disseminam descaso, diálogos sobre solidariedade ao mesmo tempo que passam por mendigos, no caso, imigrantes, que são invisíveis ou alvos de preconceito por essa mesma elite que engana com supostos trabalhos sociais. Christian não é um ser humano execrável, mas acompanhamos toda a fragilidade que existe nessa teoria do ajudar, ao mesmo tempo que demonstra o outro lado, a vítima abusando por perceber o medo nas pessoas. 
O filme segue como uma série de episódios e possui sequências fantásticas, como a da apresentação do homem que imita um gorila, interpretado magistralmente por Terry Notary - especialista nessa habilidade corporal, ele caminha por um salão requintado repleto de conhecedores da arte e filantropos, a performance é violenta, assustadora, o comportamento dele depende do como reagem, essa cena foi inspirada em uma performance de 1996 do russo Oleg Kulik em Estocolmo, que incorporando um cachorro agia conforme o público reagia a ele, claro que essa extravagância não acabou bem, assim como no filme.

Tudo que está sendo exposto pode ser considerado arte, inovação, metáfora, símbolos para as angústias, crises e vazios da atualidade? A arte é desprezada pela população comum, não há interesse em algo que não foi feito para compreender, parece alimentar apenas um grupo de pessoas, um nicho que se finge de culto para parecer superior aos demais. O monte de cascalho sendo varrido pelo faxineiro por confundir com sujeira - também inspirado em casos reais - é a demonstração da irrelevância da obra, não há substância, verdade, apenas ilusão, interesses, e poder. A preocupação social que essa elite demonstra é puro fingimento, não passa de palavras e passatempo.
Christian por conta do desencadeamento do roubo dos seus pertences e sua ideia para tê-los de volta passa por momentos que o aproximam da realidade, o garoto que vai atrás dele por se sentir rebaixado e para que ele peça desculpa pelo mal-entendido é apenas uma das circunstâncias embaraçosas do emaranhado social e que não chega nem próximo dessas teorias de politicamente correto e ideias de amor ao próximo.

O filme joga variadas cartas políticas e sociais recheadas de referências e o espectador vai juntando-as e criando uma ampla rede de reflexão. Ruben Östlund exibe sua genialidade ao caminhar entre muitos tipos de conhecimentos, cinema, fotografia, música, arte, crítica social, o que gera um aglomerado de situações que nem sempre se conectam, mas que abrem um leque de interpretações.
"The Square" reflete a dificuldade de se agir conforme os próprios valores, além de questionar os limites e o valor da arte na sociedade, o como ela está fechada em conceitos e passando longe da realidade, essa que os artistas dizem representar em suas obras; os excessos absurdos do marketing nas redes sociais, o vazio, o comodismo que a condição social produz, o egocentrismo, relações distantes e sem valor. São inúmeras as camadas, é um filme que pede revisão, certamente cada vez agregando e produzindo reflexão. 

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

13 Filmes sobre Arquitetura (13 Movies about Architecture)

Segue uma lista em que a arquitetura é também protagonista das histórias e cujos personagens são apaixonados diretamente ou indiretamente por essa profissão/arte, onde obras e espaços ganham grandes dimensões atingindo-nos tanto psicologicamente como emocionalmente. 
*Não incluí documentários. 
*A numeração é questão de ordem e não preferência.

- Por que você quer ser um arquiteto?
- Para criar espaços.
- Os espaços não são nada além de vazio.
- O vazio que deve ser preenchido.                        (La Sapienza - 2014)

13- "Arquitetura 101" (Geonchukhakgaeron - 2012) Coreia do Sul
Seung Min, arquiteto com 35 anos, recebe uma visita em seu escritório de uma mulher, a qual ele não reconhece de início, mas depois percebe que a mulher é Seo Yeon, o seu primeiro amor, que ele não a vê desde o seu primeiro ano de faculdade. Seo Yeon tem agora um pedido, ela quer contratá-lo para reconstruir sua casa, na ilha Jeju. 15 anos atrás, Seung Min era um jovem ingênuo começando seus estudos de arquitetura na faculdade, ele encontra pela primeira vez Seo Yeon em sua aula de arquitetura 101, e como tiveram que trabalhar em um projeto de classe juntos, Seung Min e Seo Yeon começam a se apaixonar. Voltando para os dias atuais, Seung Min está hesitante em aceitar a proposta de Seo Yeon, mas ela persiste e ainda vai ao chefe dele com seu desejo, deixando-o sem escolha, mas para assumir este projeto, velhas lembranças de amor e desgosto ressurgirão. Como eles lidarão com este encontro que se deu em um momento que suas vidas seguem diferentes rumos?

12- "O Som ao Redor" (2012) Brasil
A vida numa rua de classe-média na zona sul do Recife toma um rumo inesperado após a chegada de uma milícia que oferece a paz de espírito da segurança particular. A presença desses homens traz tranquilidade para alguns, e tensão para outros, numa comunidade que parece temer muita coisa. Enquanto isso, Bia, casada e mãe de duas crianças, precisa achar uma maneira de lidar com os latidos constantes do cão de seu vizinho. Uma crônica brasileira, uma reflexão sobre história, violência e barulho.

11- "Flores Raras" (2013) Brasil
Ambientado no Brasil dos anos 50, o filme contará a história do relacionamento entre a poeta norte‐americana Elizabeth Bishop e a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares. Extremamente rico e, ao mesmo tempo, bastante conturbado, esse relacionamento rendeu frutos que são marcos artísticos universais: de um lado, a poética de Bishop, cujo auge ocorre exatamente no período brasileiro da poeta; de outro, a idealização e construção do Aterro do Flamengo, obra arquitetônica mundialmente conhecida, nascida do gênio delirante de Lota. Ao mesmo tempo, o filme será um passeio pela vida política, privada e pela história brasileira do Rio de Janeiro, na década de 50.

10- "24 City" (Er Shi Si Cheng Ji - 2008) China
A fábrica estatal 420 e seus dormitórios populares, que existem há 50 anos na província de Chengdu, na China, estão sendo demolidos para dar lugar ao condomínio 24 City, um complexo de apartamentos de luxo. Acompanhamos as histórias ficcionais de três mulheres cujas existências foram marcadas pelo trabalho na fábrica. Paralelamente, cinco homens que fizeram parte da vida destas mulheres dão seus depoimentos reais para a câmera. De três gerações diferentes, as memórias destes trabalhadores confunde-se aos poucos com a história da China.

09- "Vontade Indômita" (The Fountainhead - 1949) EUA
Howard Roark (Gary Cooper) é um arquiteto independente, que dá mais importância aos seus ideais do que aos seus compromissos. Howard se apaixona por Dominique Francon (Patricia Neal), uma herdeira, mas termina a relação quando tem a oportunidade de construir edifícios de acordo com seus próprios desejos. Dominique casa com um magnata da imprensa, Gayl Wynand (Raymond Massey), que no princípio comanda uma forte campanha contra o "radical Roark", mas eventualmente se torna o partidário mais forte dele. Ao ser firmado um contrato de moradias populares, há a condição que os planos de Roark não serão mudados de forma nenhuma, mas ele fica surpreso ao descobrir que suas determinações serão radicalmente alteradas. É quando resolve revidar, custe o que custar.

08- "Metropólis" (Metropolis - 1927) Alemanha
O ano é 2026, a população mundial se divide em duas classes: a elite dominante e a classe operaria; esta condenada desde a infância a habitar os subsolos, escravos das monstruosas máquinas que controlam a Metrópolis. Quando o filho do criador de Metrópolis se apaixona por Maria, a líder dos operários, tem inicio a mais simbólica luta de classe já registrada pelo cinema.

07- "Terra dos Faraós" (Land of the Pharaohs - 1955) EUA
No antigo Egito um faraó (Jack Hawkins), ao retornar de uma campanha vitoriosa, decide construir uma pirâmide, onde será enterrado juntamente com seu tesouro, que espera desfrutar em uma segunda vida. Para garantir que nada será roubado ele aprova a ideia de um arquiteto, que é seu prisioneiro, juntamente com seu povo. Eles fazem um acordo, que se o arquiteto construir esta magnífica pirâmide os cativos serão gradativamente libertados durante a construção. Porém a empreitada é demorada, assim o faraó cobra tributos dos territórios conquistados para poder erguer esta gigantesca pirâmide. A província de Cipros não envia nada a não ser uma bela princesa (Joan Collins), que seria o tributo. O faraó acaba se casando com ela, que se torna a segunda esposa. Entretanto, ao ver os tesouros do faraó, ela seduz o guarda do tesouro e arquiteta como poderá ser a nova rainha do Egito e ficar com todo aquele ouro.

06- "A Barriga do Arquiteto" (The Belly of an Architect - 1987) Reino Unido
Arquiteto americano viaja com a esposa para Roma a fim de organizar uma exposição em memória de influente arquiteto francês. Lá, ele descobre ter um tumor maligno e à medida que a doença se desenvolve, seu casamento se desmorona e sua carreira sofre um colapso.

05- "O Arquiteto" (The Architect - 2006) EUA
O arquiteto Leo Waters (Anthony LaPaglia) vive uma crise familiar: sua esposa está infeliz com o casamento, sua filha adolescente está começando a se descobrir, e seu filho acaba de desistir da faculdade. Ao mesmo tempo, Leo recebe um pedido para assinar uma petição para destruir um prédio que ele mesmo projetou.

04- "Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual" (Medianeras - 2011) Argentina
Martin (Javier Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala) vivem na mesma rua, em edifícios opostos, mas eles nunca se conheceram. Eles andam pelos mesmos lugares mas nunca notaram um ao outro. Quais são as chances deles se conhecerem em uma cidade de três milhões de habitantes? O que os separa, irá uni-los. "Buenos Aires cresce descontrolada e imperfeita. É uma cidade superpovoada em um país deserto. Uma cidade onde se erguem milhares e milhares de prédios sem nenhum critério. Ao lado de um em estilo francês, tem um sem estilo. Provavelmente estas irregularidades nos refletem perfeitamente, irregularidades estéticas e éticas. Esses prédios que se sucedem sem lógica, demonstram total falta de planejamento. Exatamente assim é a nossa vida, que construímos sem saber como queremos que fique..." Saiba+

03- "O Homem ao Lado" (El Hombre de al Lado - 2009) Argentina
Leonardo, bem sucedido desenhista industrial, é acordado um dia em casa com um terrível barulho de obra. Em choque, constata que seu vizinho Victor está abrindo um buraco na parede para construir uma janela bem de frente à sua casa. Leonardo protesta utilizando todos os argumentos possíveis para demovê-lo. Mas os modos extremamente amistosos de Victor, que diz apenas querer mais raios de sol, o irritam de tal forma que ele torna-se obcecado com a intrusão e começa a negligenciar trabalho, família e tranquilidade. Saiba+

02- "A Sapiência" (La Sapienza - 2014) França/Itália
O arquiteto francês Alexandre Schmidt, interpretado por Fabrizio Rongione, viaja à Itália para encontrar inspiração e conhecimento no trabalho de seus ídolos Guarini, em Turim, e Borromini, em Roma. Ele busca o renascimento e a superação do seu passado através das linhas e da história do Barroco. Mas Alexandre encontra algo mais: uma história de amor.

01- "Columbus" (2017) EUA
Casey (Haley Lu Richardson) vive com sua mãe em uma cidade pouco conhecida e assombrada pela promessa de modernismo. Jin (John Cho), um visitante do outro lado do mundo, visita seu pai que está quase falecendo. Sobrecarregados pelo peso do futuro, eles encontram refúgio um no outro e na arquitetura que os rodeia.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Loveless (Nelyubov)

"Loveless" (2017) dirigido pelo russo Andrei Zvyagintsev (Elena - 2011, Leviatã - 2014) é um filme sombrio que retrata as consequências de se viver em desamor, essa ausência de afeto está tanto dentro do seio familiar, como na sociedade que apequena o ser humano tornando-o preocupado e obcecado com regras e dinheiro. Zvyagintsev filma o desencanto que envolve a sociedade russa, o ambiente é um grande personagem também, o frio congelante que devasta os bosques é o reflexo da languidez e indiferença humana, o apuro da câmera ao atravessar esses lugares destruídos logo no início é um prenúncio de que algo muito ruim irá acontecer, e assim se dá e o vácuo que se instaura machuca o espectador.
Boris (Alexey Rozin) e Zhenya (Maryana Spivak) estão se divorciando. Depois de anos juntos, os dois se preparam para suas novas vidas: ele com sua nova namorada, que está grávida, e ela com seu parceiro rico. Com tantas preocupações eles acabam não dando atenção ao filho Alyosha (Matvey Novikov), que acaba desaparecendo misteriosamente. Zhenya é amarga e infeliz, se arrepende de ter se casado e ter tido o filho, Boris é ausente e não há qualquer sinal de afeição pelo filho, as brigas entre eles são constantes e pesadas e o garoto ouve as duras palavras de desprezo, o vemos sempre absorto e fechado, até que um dia resolve fugir de casa. A cena dele chorando enquanto os pais brigam é dilacerante e gera um sentimento de desesperança, aliás, Zvyagintsev é um diretor que sempre está envolto nessa questão, seus filmes são duros e pessimistas, reais e humanos, não há floreios ao expor as dores.
A preocupação de Boris é o seu trabalho, como está se divorciando faz de tudo para garanti-lo, já que seu chefe dá valor a esta convencionalidade, então ele engravida a sua namorada para não colocar sua posição em risco, o casamento é apenas um meio para estar dentro das regras hipócritas da empresa, da religião e livre de qualquer apontamento na sociedade. Zhenya também está namorando, dessa vez acredita que pode vivenciar a felicidade, mesmo que o namorado seja apático pode garantir um status e lhe dar tudo o que quer, esse relacionamento permite que esqueça sua vida, a maior parte do tempo ela está compartilhando fotos nas redes sociais, uma grande forma de escapismo dos dias atuais. Já Alyosha fica à mercê da vida, o descaso dos pais é imenso e chega a um ponto de não aguentar mais e ir embora, o modo que a mãe reage ao sumiço, inclusive demora a percebê-lo, é alheio, sente-se perdida, recorre a Boris que a escuta friamente, e então recorre a polícia que a ouve também com frieza, chama a atenção mesmo quando o chefe de um grupo de resgate voluntário faz as perguntas para começar a busca e Zhenya não sabe responder claramente. Ela não conhece o próprio filho.

O filme não está interessado em dar pistas ou um desfecho ao desaparecimento de Alyosha, o que importa é a demonstração dos valores corrompidos, o individualismo, o vazio, a brutalidade que vem da indiferença. E o principal aqui, não há redenção, por mais desespero e arrependimento que esses pais sentiram, não há nenhuma transformação. Os personagens estão perdidos em si mesmos, se apoiando em convenções, regras e falsas alegrias, afogados na banalidade do cotidiano esquecendo-se  do palpável, nada de bom pode surgir disso, resta apenas disseminar o desamor que brota.

Profundamente cortante, uma obra que retrata o ser humano sob uma ótica peculiar, corajosa e sem julgamentos, as sombras, as frustrações, os ressentimentos, os olhares dispersos e esvaziados, as lágrimas que escorrem escondidas enquanto sorrisos explodem diante da tela do celular, a complexidade dos sentimentos, a criança em prantos sentindo todo o peso da vida em seus ombros, a culpa jogada em cima do mais fraco, a falta de consciência e a sociedade que esmaga; o leviatã.
"Loveless" pesará de um jeito diferente a cada espectador, o seu poder de reflexão é agudo, mas imensamente necessário. 

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Mãe! (Mother!)

"Mãe!" (2017) escrito e dirigido por Darren Aronofsky (Cisne Negro - 2010) não é um simples suspense ou terror psicológico, é um filme complexo de muitas camadas que passeia por diversas metáforas e alegorias. Um obra grandiosa que disserta sobre religião, natureza, feminismo e tantos outros temas que se desnovelam ao decorrer e que cada espectador sentirá, absorverá e interpretará de uma forma, as questões são amplas e isso é algo maravilhoso, o poder de reflexão é imenso. 
Um casal vive recolhido no meio de um campo em um imenso casarão de estilo vitoriano. Enquanto a jovem esposa (Jennifer Lawrence) passa os dias restaurando o lugar, afetado por um incêndio no passado, o marido mais velho (Javier Bardem) tenta desesperadamente recuperar a inspiração para voltar a escrever os poemas que o tornaram famoso. Os dias pacíficos se transformam com a chegada de uma série de visitantes que se impõem à rotina do casal e escondem suas verdadeiras intenções. 
O início começa com uma narrativa comum com uma esposa dedicada e submissa e um marido egocêntrico que vive um bloqueio criativo, enquanto ela conserta e se doa para manter a casa aconchegante, o marido só pensa em si. Essa rotina é quebrada quando um estranho visitante (Ed Harris) aparece e é acolhido sem nem ao menos a dona da casa ser consultada, a visita não é agradável e o desconforto dela aumenta quando bate a porta uma mulher (Michelle Pfeiffer), justamente a esposa deste que está em sua casa, e para sua surpresa ela é mais invasiva ainda. Ela não os deseja ali, mas os dois são colocados para dentro de sua casa e as situações vão se tornando cada vez mais constrangedoras e insustentáveis. A força da personagem de Lawrence é sugada pouco a pouco e isso nos atinge de maneira desconfortável, ela vai perdendo sua dignidade toda vez que é ignorada, que não é ouvida. Toda a perspectiva da história é passada através de sua personagem, sob o seu ponto de vista e por isso a câmera não desgruda dela, são enquadramentos claustrofóbicos e sequências angustiantes em que ela experimenta sensações e visões, essas que só são compreensíveis e encaixadas em seus momentos finais. 

O filme te captura inicialmente por uma narrativa aparentemente simples, mas a medida que avança o suspense com a invasão domiciliar o terror vai tomando conta, perturbando o espectador com cenas surreais, mas que vão se encaixando em metáforas e muitas possibilidades de interpretação. A segunda metade do filme é o caos total, a casa se torna um antro, os efeitos sonoros eclodem criando uma atmosfera enlouquecedora, a alegoria religiosa está bem delineada, a fé, a idolatria dos símbolos cristãos, a guerra, a destruição e o ciclo. O personagem de Javier Bardem representa Deus, vaidoso e egoísta, que necessita criar sua obra para ser amado e idolatrado, daí então conceber a vida, para isso necessita da Mãe, Jennifer Lawrence é a Casa, a Mãe Natureza. Ela cuida, se doa, se sacrifica. 

São várias as referências bíblicas do Gênesis ao Apocalipse, como "A Criação de Adão e Eva", "Expulsão do Paraíso", "Caim e Abel", "O Grande Dilúvio", "A Queda de Lúcifer", "A Crucificação de Jesus Cristo", "O Apocalipse", "A Nova Terra", mas o filme não se resume a esta representação e revela temas como opressão feminina, culto aos ídolos, narcisismo, natureza, feminilidade, moralismo; a relação entre o abuso do patriarcado à mulher ao tratamento que os humanos destinam à natureza.
Apesar de triste e até niilista há uma ponta de esperança, pois o novo nasce do caos e da mais profunda escuridão, surge a luz!. "Mãe!" é sádico e causa desconforto, são inúmeras metáforas visuais e a cada cena somos inseridos nesse universo amplo e onírico, é um filme que exige atenção e pede revisões, uma experiência cinematográfica intrigante, desesperadora e grandiosa. 

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O Solitário Jim (Lonesome Jim)

"O Solitário Jim" (2005) dirigido pelo versátil ator Steve Buscemi, que também se sai maravilhosamente como diretor (Animal Factory - 2000), nos entrega um filme independente baseado no livro de James C. Strouse. A história é super singela, realista e disserta sobre frustrações, relações familiares, solidão e amor. 
Depois da frustrada tentativa de morar sozinho em Nova York, Jim (Casey Affleck) retorna à cidade natal, em Indiana, onde é forçado a voltar para a casa dos pais e dar de cara com a realidade que um dia o fez ir embora da cidade. Sua vida melhora um pouco quando conhece a enfermeira Anika (Liv Tyler) e seu filho. Jim, então, aprende lentamente como continuar seu caminho sem deixar todos para trás.
Jim retorna à casa de seus pais depois de se frustrar na cidade grande, sua postura niilista não ajuda na relação com os pais, tudo é muito estranho e forçado, ninguém é feliz naquela casa, mesmo a mãe o recebendo de braços abertos a situação é constrangedora, ele tem 29 anos e não conseguiu nada na vida, assim como seu irmão Tim (Kevin Corrigan) que também mora lá e sofre em se ver trabalhando na fábrica dos pais, ele tem duas filhas e treina um time de basquete de crianças que nunca pontua. O tom do filme é amargo, porém possui vários alívios cômicos, todos eles bem naturais e comuns. Jim é angustiado, nada o deixa animado, ele ama a sua família, mas não deseja estar perto deles, os seus sentimentos em relação a eles são contraditórios.
Vagando pela cidade de bar em bar, Jim conhece Anika, uma linda enfermeira que devagar vai trazendo cor a sua vida, ela também possui as suas tristezas e de pouquinho a pouquinho se apega a figura enigmática de Jim, que carrega em si a mesma aflição e desespero de grandes escritores, cujos livros são sobre gente triste com sonhos patéticos, como Virginia Woolf, Richard Yates, Burroughs, Sylvia Plath, Samuel Beckett, Dorothy Parker, Breece D'J Pancake e Hemingway. Ele tem essa alma inquieta e melancólica que busca e não compreende a tristeza que o consome, sente a insatisfação que a vida gera e as hipocrisias que a rodeia lhe dão ainda menos ânimo para seguir em frente, mas o fato dele não ter nada o faz persistir, na conversa que tem com o irmão sobre isso deixa claro que no lugar dele já teria se matado. A consequência desse diálogo se torna quase trágica.

O filme tem um tom pesaroso, o protagonista sempre está cabisbaixo refletindo sua vida, as suas frustrações, as dores que ele sente o espectador também sente, os dramas vividos por ele são tão humanos, tão comuns a qualquer pessoa, a difícil relação com a família, os sonhos quebrados, admitir que não há muito para si e enxergar o que já se tem. Jim está perdido e não tem perspectiva nenhuma, a volta à casa dos pais o faz se sentir ainda mais desolado, foi sua última alternativa simplesmente por não ter mais dinheiro. Mas, refletindo sobre tudo Jim sabe que foi muita inocência crer que os sonhos se realizam só porque se sonha e que ao aceitar as decepções as dores diminuem.

"O Solitário Jim" é um filme simples que abrange relacionamentos e mostra que nem sempre é preciso fugir para ter o que deseja, às vezes o que precisamos está perto e nem percebemos, damos as costas. Jim compreende que também precisa dar e não apenas receber amor, e é através de Anika e seu filho Ben que sente-se preenchido e por fim abre um sorriso sincero. Vale ressaltar a linda trilha sonora que acompanha Jim e suas descobertas existenciais.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Ingrid Goes West

"Ingrid Goes West" (2017) dirigido pelo estreante Matt Spicer é uma comédia de humor negro que retrata o fanatismo, o narcisismo, a solidão, a rejeição e a superficialidade que envolve as pessoas nas redes sociais, um retrato atualíssimo e que carrega uma crítica pulsante, não se engane pelos clichês utilizados, eles são totalmente propositais para causar desconforto, a comédia suaviza a crítica, rimos de muitas situações, mas ao mesmo tempo refletimos no quanto uma boa parte dos usuários das redes sociais estão viciados em publicar posts, ganhar likes, seguidores para então se tornar uma web celebrity, se discute esse vazio que necessita ser preenchido, porém a verdade é que faz o efeito contrário e as pessoas estão cada vez mais esvaziadas.  
Ingrid (Aubrey Plaza) é uma jovem que tem como seus principais ídolos as personalidades das redes sociais. A que ela mais gosta é Taylor Sloane (Elizabeth Olsen), muito famosa e com uma vida aparentemente perfeita. Obcecada, Ingrid decide abandonar tudo e se mudar para perto de Taylor, colocando em prática o plano de se tornar sua melhor amiga. Porém, o que parecia mais um comportamento de fã, se torna aos poucos preocupante e perigoso.
O início demonstra a total insanidade de Ingrid ao curtir todas as fotos de uma moça no Instagram, são hashtags e mais hashtags, ao ver que tudo o que ela posta é perfeito, as comidas, as roupas, as festas, Ingrid se sente pra baixo e deseja ser amiga dela, e no dia de seu casamento ela aparece e causa um transtorno, o resultado disso é que acaba internada algum tempo numa instituição. De volta à vida, Ingrid refaz seu perfil e do nada fica obcecada por uma outra personalidade, Taylor Sloane, que ganha dinheiro fazendo propagandas de marcas, restaurantes e afins, é uma enxurrada de postagens agradáveis e perfeitas, Ingrid que ao invés de viver a sua vida prefere ir até Venice Beach atrás desta "celebridade" com o dinheiro que sua mãe deixou de herança. Ingrid é uma exímia stalkeadora e dessa vez não falhará, seu inteligente plano envolve o cachorro de Sloane e de fato dá certo, ela consegue se aproximar e até formar uma amizade, viajam e ficam bêbadas juntas, tiram fotos, só que é como nas redes sociais, nada tem peso e significação para Taylor, e Ingrid logo é deixada de lado por uma outra "amizade" mais interessante.

Aubrey Plaza encarna com maestria uma personalidade totalmente desequilibrada que busca algo através de redes sociais, que necessita por meio desta se destacar dos demais, ela quer ser amada por seguidores, ter milhões de likes, ter sua vida baseada nessa mentira. A saciação que estas coisas produzem são efêmeras e não se pode viver apenas em função disso, é sedutora a ideia de ser idolatrado por qualquer bobagem que se faça, como é o caso da vida da personagem de Elizabeth Olsen, mas ao mesmo tempo que soa importante se desfaz com facilidade. É preciso ter consciência de que belas postagens, as tendências e comportamentos ditados não condizem com a vida real e não podem estar a frente da realidade. É aquela velha história, se usado com moderação e para agregar é mais que válido, mas quando entra na neura de ser somente isso e mais nada, a sanidade vai embora causando grandes dores emocionais.

"Ingrid Goes West" se disfarça de comédia, mas é um drama contemporâneo ao retratar que nada mais importa do que aparentar ser "cool" e conhecido nas redes sociais, o final é totalmente coerente e mostra que quanto mais imbecil ou perigosa a atitude filmada e postada mais popularidade e, por consequência, incentivo para a pessoa continuar a tentar preencher seu vazio e solidão. O lema é: Tudo em prol do status!

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Fever Ray - Plunge (2017)

Fever Ray voltou!!! Após 8 anos de recesso Karin Dreijer Andersson lança "Plunge", um disco menos obscuro que o anterior, o homônimo e seu magnum opus: "Fever Ray", que se configurou entre os melhores do ano de 2009. Fever Ray surgiu como um projeto solo de Karin entre os espaços de sua banda principal, The Knife. Esta sua volta pegou os admiradores de surpresa com alguns vídeos de teaser indicando o retorno, e logo o estranho clipe "To The Moon And Back" estava disponível envolto em uma aura futurista e fetichista. O disco foi todo gravado em Estocolmo, no próprio estúdio de Dreijer, com parceria dos produtores Paula Temple, Deena Abdelwahed, NÍDIA, Tami T, Peder Mannerfelt e Johannes Berglund. Mas, todo o álbum é praticamente composto pela criatividade de Karin que nos presenteia novamente com músicas imersivas dentro do gênero da música eletrônica, as nuances são diversas e passeia pelo synthpop, trip hop até ao krautrock. Diferentemente do primeiro e inesquecível trabalho, "Plunge" está inserido num universo mais aberto, menos misterioso. O caos está presente, assim como o bizarro, mas a intensidade conversa com outros elementos, é mais expressivo e tem uma abordagem libertadora, dizendo sobre amor, sociedade e sexualidade.
As onze faixas produzem uma imersão completamente inquietante e excitante, ousada e transgressora, sem deixar também a densidade de lado mesclando dor e prazer. Fever Ray retorna com uma viagem estimulante, libidinosa e futurista, um mergulho louco no bizarro, a atmosfera prende e seduz, a cada música e a cada nova ouvida descobre-se nuances e ambientes a se explorar. Imperdível. Os fãs agradecem!

Teaser


O álbum está disponível nos serviços de streaming. Os formatos vinyl e CD chegam só a 23 Fevereiro de 2018 através da Rabid Records. 

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Sámi Blood (Sameblod)

"Sámi Blood" (2016) dirigido pela estreante Amanda Kernell tem uma história forte que retrata o preconceito dos suecos em relação ao povo nômade da Lapônia, os Sámi. Considerados inferiores na escala da evolução, as crianças dessa etnia iam para uma escola específica, onde era proibido falar a língua nativa e qualquer coisa era motivo para humilhação e punição física, segundo os estudiosos da época, 1930, período que os conceitos da Eugenia ganhavam adeptos pelo mundo todo, povos considerados diferentes eram analisados, media-se o tamanho do crânio e a conclusão era sempre de que eram incapazes de pensar por si próprios. 
Elle Marja (Lene Cecilia Sparrok), de 14 anos, é uma menina indígena do povo Sámi que está sofrendo com o enorme preconceito de sua década, a de 1930. Ela acaba de ser removida à força de sua família e amigos e enviada para um internato do estado, tudo para que passasse de uma integração forçada em um sistema educacional que lhes ensina que seus costumes e estilos de vida indígena eram inferiores aos dos "homens brancos". Exposta ao racismo e a exames biológicos, ela passa a sonhar com outra vida. Para alcançá-la, a jovem tem que se tornar outra pessoa e cortar todos os laços com sua família e sua cultura.
O início nos mostra Elle Marja voltando para a sua terra natal para o velório de sua irmã, seu semblante austero indica que ela não se considera como parte daquilo e faz questão de não participar das festividades, como a marcação das renas, ela deseja ir embora o mais rápido possível, o passado é doloroso, a questão de pertencimento pesa em seus ombros. Ao regressar para seu hotel ela começa a refletir e assim nos envolver em sua vida nos fazendo compreender o porquê de tanta mágoa. Voltamos no tempo junto dela e primeiro adentramos à sua comunidade que vive em cabanas e pastoreia renas, depois que seu pai morre ela e sua irmã são mandadas para um internato a fim de que tenha o básico como estudo e, principalmente, aprender a língua sueca e saber que seus costumes e tudo o que envolve o povo Sámi é inferior. Muito inteligente e decidida, Elle Marja quer ser professora, se empenha para isso mesmo que as humilhações a acompanhe, a relação dela com a irmã é doce e vemos muitos momentos lindos nesse início, como quando fazem joik, um canto tradicional.

O estopim para que Elle Marja queira mudar de identidade é quando estudiosos vão à escola e sem dizer uma palavra começam a medi-la por inteira, ela não suporta a ideia de que sua vida se baseie em cuidar de renas e de que o preconceito limite sua vida, Elle Marja almeja fugir para Uppsala, na Suécia, para estudar e se tornar professora. Quando parte recorre a Niklas, um jovem que conheceu em uma festa, mas os pais dele a expulsam no dia seguinte declarando todo o preconceito, então acaba indo parar num colégio e se abriga por alguns dias, só que para ela continuar ali precisa de uma boa quantia de dinheiro, e vendo que é isso que quer precisa voltar para sua comunidade, pedir a quantia para sua mãe que Elle Marja tem como parte da herança que seu pai deixou. A partir desse momento a garota rompe com todas as suas origens, para sobreviver e ter o que deseja elimina qualquer resquício de sua identidade Sámi.

"Sámi Blood" é um drama belíssimo e intenso que retrata a discriminação em relação aos lapões, a nossa protagonista sofre e sente que para seguir adiante precisa se livrar de sua cultura, o que mais tarde lhe gera as dúvidas sobre pertencimento, horrível ter que perder sua identidade, odiar suas raízes por puro e descabido preconceito dos que pensam ser superiores.
Para se enquadrar na sociedade dominante muitos povos perdem os laços de sua rica cultura e, que infelizmente, cada vez mais vão se extinguindo por conta de não haver respeito étnico. É um importante retrato para que, talvez, haja um resgate desta e de tantas outras culturas espalhadas pelo mundo.