"Harmonium" (2016) dirigido por Kôji Fukada (Adeus Verão - 2013) é um filme enigmático e que perturba, até pode ser encaixado no gênero horror devido o desencadeamento das relações e suas coincidências, de ritmo lento dando ênfase nos olhares e pequenos movimentos, observamos o ruir de uma família japonesa chegando ao ápice com a tragédia.
Toshio (Kanji Furutachi) está empenhado em trabalhar na sua pequena oficina metalúrgica na aldeia em que mora. Este trabalho que mistura sabedoria e dedicação está ameaçado com a chegada de Yasaka (Tadanobu Asano), velho amigo de Toshio, um ex-membro Yakuza recém-saído da prisão, que começa a se misturar à vida familiar de Toshio.
É um filme estimulante apesar de sua cadência vagarosa, nos faz pensar no que escondem esses personagens, o silêncio que emana também provoca e interrogações surgem a cada cena. O início nos é apresentado Hotaru (Momone Shinokawa), a filha do casal Toshio e Akié (Mariko Tsutsui), treinando harmônio, pois logo irá se apresentar na escola, o pai é totalmente taciturno e desfaz da esposa e filha, há um diálogo muito interessante entre mãe e filha nesse começo sobre uma espécie de aranha, que se sacrifica e vira alimento para sua própria ninhada. A rotina apática dessa família muda quando um amigo de Toshio chega e lhe pede emprego e moradia, um favor como ele próprio diz, Toshio não titubeia e o emprega, a oficina fica na garagem da casa e o acomoda sem nem dar explicações à esposa, Yasaka saiu recentemente da prisão e é repleto de modos que incomodam a dona da casa, ela é reticente de princípio, mas aos poucos e, principalmente, ao ensinar Hotaru a tocar harmônio muda sua visão sobre, criam um vínculo de amizade e Yasaka acaba confessando sobre seu passado, neste momento Akié já está encantada por ele e também por causa de sua religião, o protestantismo, acredita que essas pessoas possam ter uma segunda chance, e Yasaka ganha ainda mais a atenção dela. Assim como ela somos absorvidos por sua personalidade, ora duvidamos, ora pensamos ser ele alguém arrependido, e esse clima perdura até de fato ocorrer uma das primeiras tragédias do filme.
As mudanças que esse estranho promove no seio familiar são silenciosas, ele chega como um fantasma para cobrar algo do passado, Toshio esconde um segredo e Yasaka se aproveita disso para se aproximar de Akié e Hotaru. A rotina fria e distante da família é totalmente reformulada, o clima aparentemente ameno do início é abalado, sentimentos adormecidos e desejos são aflorados, Yasaka causa bastante impacto, a harmonia é quebrada.
As mudanças que esse estranho promove no seio familiar são silenciosas, ele chega como um fantasma para cobrar algo do passado, Toshio esconde um segredo e Yasaka se aproveita disso para se aproximar de Akié e Hotaru. A rotina fria e distante da família é totalmente reformulada, o clima aparentemente ameno do início é abalado, sentimentos adormecidos e desejos são aflorados, Yasaka causa bastante impacto, a harmonia é quebrada.
O diretor Fukada conduziu com maestria e ao final a sensação de angústia é o que resta. Mariko Tsutsui como Akié é vulnerável e demonstra muita complexidade com o decorrer, suas aflições e suas reações diante ao caos, a mudança que ocorre em seu semblante na segunda parte do filme impressiona. O esplêndido Tadanobu Asano - eterno Kakihara de "Ichi The Killer" - faz aqui um homem com uma postura impassível e estranhamente sedutora, Yasaka chega de mansinho, infiltra-se e sutilmente vai intoxicando o tradicional ambiente familiar. Kanji Furutachi como o pacato Toshio por honra se submete, está sendo cobrado pelo silêncio do amigo no passado, e assim os segredos vão emergindo e abrindo feridas.
A cadência do filme contrasta com seus acontecimentos, esse desarranjo causa mal-estar, as viradas da vida deste casal, as consequências, as coincidências inquieta-nos.
"Harmonium" é intrigante, devastador, um thriller meticuloso que trabalha a tensão de forma única, que dá a conta-gotas as informações e amargamente se desenvolve revelando as fissuras.
O cinema japonês tem alguns dramas interessantes. Faz pouco tempo que assisti e postei no blog sobre "Pais e Filhos" e "Depois da Tempestade".
ResponderExcluirGostei também do policial "Escudo de Palha".
Este que vc comentou eu não conhecia.
Abraço