"Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo" (2017), estreia na direção de Macon Blair mistura drama, comédia, crime e suspense para contar a história de duas pessoas desajustadas que se unem e decidem fazer justiça com as próprias mãos. É um filme inteligente e com umas sacadas pertinentes sobre a vida e o como a vivemos, o ótimo título já diz a que veio.
Quando uma mulher deprimida é roubada, ela passa a viver com o propósito de rastrear os ladrões, ao lado de seu vizinho detestável. Porém, eles logo entendem que estão se envolvendo com um grupo perigoso de criminosos degenerados.
Ruth Kimke (Melanie Lynskey) é uma jovem auxiliar de enfermagem que se vê cada vez mais insatisfeita com as pessoas e com o modo como tudo funciona, as hipocrisias, o desrespeito e a falta de educação e gentilezas a fazem detestar essa realidade. Sua vida é pacata, solitária e está afundada em frustrações. Ruth presencia o cretinismo diário das pessoas, como furar fila, derrubar coisas no supermercado e não pegar, não dar preferência ao pedestre, coisas que acontecem todos os dias e que certamente o espectador se identificará e pensará no como tem agido. Ela expele suas indignações em muitos diálogos e apesar de ser engraçado reflete perfeitamente o funcionamento do cotidiano.
Quando Ruth tem sua casa invadida e alguns pertences roubados sua postura muda, principalmente ao ver o descaso das autoridades, que pouco se dá o trabalho de procurar pistas para encontrar os bandidos. É aí que entra em cena seu excêntrico vizinho Tony (Elijah Wood) que compra a briga de Ruth e a ajudará a fazer justiça. É com bom humor e exageros que a busca pelos pertences e aos ladrões se desenrola, mas sem nunca perder o teor crítico, Ruth e Tony não medem consequências e a aventura ganha outros tons quando descobrem a identidade do ladrão e envolvem a família deste no meio. Elijah Wood como Tony em nenhum momento questiona Ruth, cai de imediato em seu plano e se apaixona, ele surpreende por sua desenvoltura com objetos de artes marciais e é dono das cenas mais engraçadas. Melanie Lynskey como a desajustada Ruth causa empatia logo de prima ao questionar o meio e o quão egoístas as pessoas são.
Sarcástico, reflexivo e violento, a trama faz questão de explorar o lado nonsense, a ebulição, a vingança desenfreada de dois seres deslocados e desiludidos com as pessoas. Já que a lei não funciona quando se precisa dela não importa mais nada, atos e consequências, a revolta atinge seu ápice.
A junção de drama existencial, humor negro, perseguição e um clímax violento surpreende e justamente por essa ousadia em não poupar estranhezas somos compelidos a pensar qual papel exercemos. Somos os cretinos ou os desajustados? E quem nunca pensou em fazer justiça com as próprias mãos? E sobre o exagero ou surrealidade do filme, a realidade não se difere muito, sendo exagerada e sem sentido na maior parte do tempo.
É um filme que está na minha lista.
ResponderExcluirO ator Macon Blair é o protagonista do interessante "Ruína Azul" do diretor Jeremy Saulnier. Ele trabalhou também com o diretor no violento "Sala Verde".
Acredito que Blair tenha aprendido muita coisa com Saulnier e utilizado como base neste seu trabalho com diretor.
Abraço