"The King and the Clown" (2005) dirigido por Lee Jun-ik (Blades of Blood - 2010), um dos maiores sucessos de bilheteria na Coreia do Sul, é um filme elegante, sutil, porém ousado, e claro, belíssimo. Disserta sobre arte, amizade, amor, lealdade, loucura, poder e corrupção mesclando drama, comédia, ação, política e tragédia shakespeariana.
Baseado em fatos reais, a história se passa em plena dinastia Chosun – século 16, onde um grupo de artistas de rua, uma espécie de "trovadores", conseguem seu sustento entretendo as pessoas. Entre eles há um jovem, Gong Gil (Jun-ki Lee), cujos traços físicos e personalidade são extremamente femininos e por isso é vítima da luxúria de homens com poder. E por esse motivo seu grande amigo e protetor Jang Sang (Kam Woo-Sung), foge com ele para Seul. Ali conhecem mais três palhaços de rua e começam a satirizar o rei, até que um ministro vê e os leva presos ao palácio, sob pena de morte. Entretanto lhes é dado uma oportunidade: se com a sátira que faziam, conseguem fazer o rei sorrir, seriam libertados. Eles conseguem, mas o rei ordena que eles fiquem no palácio, para entretê-lo e cada vez mais o rei vai prestando atenção em Gong Gil.
Gong Gil e Jang-Sang se conhecem desde crianças, são inseparáveis, existe nesta relação uma afetividade e lealdade ímpar, os dois seguem fazendo números artísticos pelas aldeias, até que resolvem satirizar o rei Yeonsan (Jin-yeong Jeong). Eles criticam a exploração e a corrupção da corte e ao chegar aos ouvidos do rei são sentenciados à morte, mas por sorte aceitam o desafio proposto, apresentar o show ao próprio rei, satirizá-lo e conseguir que ele ria disso. Gong Gil, Jang Sang e mais os três palhaços fazem o que podem, mas só cometem deslizes de tão nervosos, quem salva a pele de todos é o excêntrico Gong Gil, que faz uma piada safada com seu colega e arranca risadas do rei maluco. Livres da morte, mas presos no palácio aos desejos do rei, Gong Gil acaba agradando e se aproximando do rei graças as suas feições femininas e histórias engraçadas. Ele é requisitado todas as noites pelo rei, o que ocasiona ciúmes em Jang Sang, que com o passar dos dias deseja sair de lá. Mas Gong Gil também sente algum afeto pelo rei, um triângulo amoroso se ergue, mas de modo sensível e velado.
A trupe encena todos os podres que acontecem no palácio, assuntos tensos do qual o rei nem sabe, mas que preocupam a corte, são revelações que podem abrir os olhos do rei mimado, então Jang Sang receoso com a situação planeja fugir, só que Gong Gil resiste por sentir pena do rei e agora ter uma vida longe da miséria e violência, isso tudo abala Jang Sang.
O filme traça a questão política da época magistralmente e traz o teatro como meio de evidenciar toda a mentira vivida dentro do reino e a calamidade em que o povo vivia, as encenações são primorosas, impossível não se encantar com os números. As atuações são sensíveis e gloriosas, a dupla Jun-ki Lee, que vive o andrógino Gong Gil e Kam Woo-sung como o amável Jang Sang passam todo o sentimento de amizade e lealdade com sutilezas e poesia. Destaque também para a forte atuação de Jin-yeong Jeong como o obcecado e louco rei Yeonsan.
"The King and the Clown" é visualmente deslumbrante, o figurino colorido e a ambientação fascinam, além de toda a teatralidade incorporada à história, a arte denunciando as falcatruas, revelando através do falso, a realidade. Uma obra bonita que mistura vários elementos, diverte, emociona, faz refletir e evidencia sentimentos puros com sensibilidade e originalidade. Filmaço!
Não conhecia este filme. Ótima sugestão.
ResponderExcluirAbraço