Páginas

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Elle

"Elle" (2016) dirigido por Paul Verhoeven (Showgirls - 1995) traz uma trama instigante e recheada de camadas, a protagonista vivida por Isabelle Huppert - sempre sublime em cena - nos confunde tamanha a sua complexidade, muitas questões passam por nossa mente enquanto acompanhamos as suas atitudes, esse filme é uma experiência inquietante por ser provocador e por colocar a natureza humana de forma tão crua. Ao retratar uma personagem feminina controversa os sentimentos causados são dos mais variados, desde empatia a irritação e repulsa, é difícil compreender o jogo que ela inicia, Michèle é ousada, sarcástica, domina todos ao seu redor e muitas vezes até sem perceber, algo quase doentio.
Baseado no livro "Oh..." de Philippe Djian, Michèle (Isabelle Huppert) é a executiva-chefe de uma empresa de videogames, a qual administra do mesmo jeito que administra sua vida amorosa e sentimental: com mão de ferro, organizando tudo de maneira precisa e ordenada. Sua rotina é quebrada quando ela é atacada por um desconhecido, dentro de sua própria casa. No entanto, ela decide não deixar que isso a abale. O problema é que o agressor misterioso ainda não desistiu dela.
A temática é delicada e a visão que Verhoeven entrega é inusitada e perturbadora, a frieza domina o filme e se inicia com Michèle sendo estuprada enquanto seu gato olha a situação indiferente, ao invés de se abalar Michèle limpa o ambiente, toma um banho, segue sua rotina e analisa o crime de diferentes formas, como um acontecimento trágico ou mesmo banal. O estuprador continua a rondar sua casa e quando o episódio volta a acontecer e consegue desmascarar o agressor, Michèle transforma o ato em algo prazeroso, o que revela a faceta obsessiva e psicopata dela, o estupro desencadeou o compartilhamento de dois seres doentios que se satisfazem com um jogo imoral. 
Michèle é estranha, o modo como se relaciona com as pessoas próximas, como lida com o trabalho, um local essencialmente masculino, suas reações são anormais, o estupro só evidenciou a personalidade dominadora dela, os traumas do passado que envolveram seu pai, um serial killer famoso, por exemplo, é intrigante e chocante, aliás, parece ser a única coisa que desestrutura seu ser. Interessante que ela se separou do marido porque foi agredida, mas aceita ser violentada por um desconhecido, sem contar que ela não se importa, a frieza é sua característica, ela trai sua melhor amiga e companheira de trabalho com o marido dela. É preciso entender que o roteiro não quer discutir o estupro em si, mas o como essa mulher reagiu e o como se intensificou as loucuras e perversões que havia dentro dela. É um estudo de personagem complexo.

"Elle" contém cenas que nos pega de surpresa por conta da personalidade de Michèle, o que inicialmente parece ser somente uma vingança, onde Michèle tenta descobrir seu agressor, acaba tomando rumos inesperados. Essa mulher coloca todos a sua disposição, os domina num jogo de gato e rato tenso e sarcástico. 
Provocativo, inquietante e perverso, a atuação de Huppert é magnânima, sempre às voltas da violência ela é um enigma a se decifrar, manipula-nos até o último segundo. Repleto de camadas é um filme para se analisar em detalhes. O diretor holandês Paul Verhoeven retorna após um recesso de 10 anos ainda mais potente e inovador. Brilhante execução!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

SE FOR COMENTAR, LEIA ANTES!

NÃO ACEITO APENAS DIVULGAÇÃO.