"A Vida em um Aquário" (2014) dirigido pelo islandês Baldvin Zophoníasson (Órói - 2010) é um bom drama que carrega várias histórias entrelaçadas, a trama é muito bem construída, porém não há nada que surpreenda, é simples e despretensiosa.
Inspirado em fatos reais na Islândia, descreve três mundos diferentes que colidem violentamente. Mori (Thorstein Bachmann), escritor com problemas com a bebida, Eik (Hera Hilmarsdóttir), uma jovem mãe solteira que trabalha em uma creche e Sölvi (Thorvald David), um ex-jogador de futebol que vê sua vida familiar desmoronar debaixo dele.
Os três protagonistas são interessantes e agregam para a história, Eik trabalha em uma creche, tem uma filha, mas também trabalha como prostituta de luxo para conseguir pagar dívidas, a vemos sempre com um semblante triste e preocupado, Mori é um escritor talentoso com um passado trágico que o atormenta, ele isolou-se e diariamente embebeda-se. Sölvi, depois de largar a profissão de jogador de futebol, se envereda no ramo de investimento bancário, ele é casado e tem uma filha. Ao longo vamos conhecendo-os melhor e em algum momento eles vão se cruzar, trazendo um ar de esperança à trama, especialmente, a relação de amizade que se inicia entre Mori e Eik, um poeta bêbado com uma jovem prostituta, existe uma carência paternal nela e nele um desejo de ser pai, pois Mori perdeu a filha de uma forma trágica, já a relação de Eik com a família é tensa e distante, tudo se explica ao final. Sölvi tem tudo para ser feliz, uma linda mulher, uma filhinha, bens materiais, fama e agora um emprego no banco, mas após saber que precisará viajar para Flórida, uma viagem de luxo num iate cheio de prostitutas e drogas, a relação com a família perde a força e Sölvi começa a repensar sua vida, ele é um ser humano honesto, mas que agora habita em um território permeado de fraudes. Neste meio tempo encontra com Eik que está trabalhando neste iate, entre eles dois a relação não é apenas sexo, há uma troca de afinidades instantânea e que balança a estabilidade de Sölvi.
O filme causa empatia e percebemos o quanto o acaso pode transformar nossas vidas, o encontro entre pessoas e o compartilhamento de sofrimentos que se transformam em instantes únicos e duradouros. Com ótimas interpretações, cenas belíssimas e diálogos marcantes, principalmente entre Mori e Eik, e mais ainda quando recita as suas poesias cheias de encanto, amargura e solidão.
"Estou dilacerado, caído no lado sombrio, na metade do caminho e a alma mergulhada no moleiro. As árvores vertem lágrimas, as pedras sangram, o frio morde as feridas. Mas o vento silva. Talvez o bloco de gelo seja reflexo do meu eu suspenso. Minhas mãos nunca tão vazias, minha língua nunca tão silenciosa. Eu fito ainda através do gelo e o verde está na raiz. E eu olho pra você, esperando o gelo partir."
"A Vida em um Aquário" é fascinante por colocar três personagens com problemas díspares que se colidem e que de alguma forma transformam seus destinos. Retrata a crise econômica, a ganância dos grandes, relações familiares conturbadas, segredos, hipocrisias e dolorosas feridas que precisam ser cicatrizadas para seguir adiante.
Legal, mais um filme que eu não conhecia.
ResponderExcluirA questão do personagem que provavelmente afunda por causa de um investimento bancário está ligado a crise financeira que a Islândia enfrentou anos atrás quando quase foi a falência por causa de um esquema de investimento fraudulento que lesou milhares de pessoas.
Abraço e um ótimo domingo.
Filme emocionante e lindíssimo mas que de forma alguma merece os títulos que recebeu no Brasil e nos EUA: "A vida em um aquário" ("Life in a fishbowl"). "Vonarstraeti" em português é "rua da esperança". Que esperança tem um peixinho num aquário? No entanto esperança é o sentimento do filme. Aceito 90% dos dados que meu catálogo de filmes, EMDB, traz do IMDb, mas esse tive que mudar.
ResponderExcluirQuando a história dos personagens de Eik e Mori surgiram, fiquei impressionado, deixemos os julgamentos para depois, a vida não é fácil, principalmente quando há cicatrizes abertas. Eik de certa forma tentou preencher o lado amoroso, sem sucesso.
ResponderExcluirDe certa forma, o filme terminou com um pouco de esperança.