"O Presidente" (2014) do sublime diretor e ativista Mohsen Makhmalbaf (Gabbeh - 1996, O Silêncio - 1998) retrata com imensa sensibilidade uma fábula sobre a destituição de um ditador e a substituição de uma violência por outra gerada a partir do ódio, da desordem e do desejo de vingança. Mohsen com um olhar inteligente e amplo nos oferece um ponto de vista difícil, porém essencial de que a violência seja qual for nunca será o caminho, a vingança contra o seu opressor é tão cruel quanto aquela sofrida.
Numa aldeia fictícia do Cáucaso, o Presidente (Mikheil Gomiashvili) em fuga tem apenas a companhia do neto (Dachi Orvelashvili) de cinco anos. Um golpe de Estado aconteceu e o ditador agora circula pelas terras que um dia governou disfarçado de músico. Pela primeira vez ele se aproxima realmente da gente que por tanto tempo liderou, finalmente conhecendo aquele que era seu povo.
Numa aldeia fictícia do Cáucaso, o Presidente (Mikheil Gomiashvili) em fuga tem apenas a companhia do neto (Dachi Orvelashvili) de cinco anos. Um golpe de Estado aconteceu e o ditador agora circula pelas terras que um dia governou disfarçado de músico. Pela primeira vez ele se aproxima realmente da gente que por tanto tempo liderou, finalmente conhecendo aquele que era seu povo.
O filme é todo composto por belas cenas de imenso impacto, ele já se inicia mostrando o poder concentrado na figura de um homem cruel, mas que exibe carinho por seu neto, a humanização do personagem, com um simples telefonema ordena que as luzes da cidade se apaguem, o menino brinca com o poder que lhe é oferecido e a repete até que de repente a ordem de acender não seja concedida, é o início da revolução. A família do governante pega um avião para outro país e o menino aos prantos não deseja ir, como ainda o Presidente não tinha noção da proporção dos acontecimentos fica com o neto, a situação se agrava rapidamente com os cidadãos em fúria e é obrigado a fugir, se disfarçando de músico. A jornada é humanista, mas não permite a redenção ao tirano, ele se vê diante do povo que sofreu com a suas maldades, antes a opulência o afastava da realidade, apenas ordenava, não via o sofrimento, agora relegado à miséria sente medo rodeado por uma população com sangue nos olhos para matá-lo, sua sensibilidade é ativada, mas principalmente por conta da convivência com seu neto. O medo o domina, ele vai fugindo e cada canto que se esconde continua oprimindo as pessoas, por exemplo, na casa do senhor que corta sua barba e cabelo. Interessante observar a gradativa despersonalização do garoto, antes um menino mimado que se exibia com títulos e honras, em sua inocência vai deixando de lado esses costumes, por muitas vezes comete deslizes ao se dirigir ao avô com pompa e elegância e fazer continências.
Por se passar em um lugar fictício essa fábula pode ser encaixada em qualquer sociedade, a mensagem é de como o poder transforma os seres humanos, e que é preciso tomar cuidado com políticos que exibem falácias agradáveis, que dizem o que queremos ouvir diante de situações críticas, onde nada mais parece funcionar o desejo de um líder cresce, se a população der poder suficiente, é certo que não acabará bem.
Por se passar em um lugar fictício essa fábula pode ser encaixada em qualquer sociedade, a mensagem é de como o poder transforma os seres humanos, e que é preciso tomar cuidado com políticos que exibem falácias agradáveis, que dizem o que queremos ouvir diante de situações críticas, onde nada mais parece funcionar o desejo de um líder cresce, se a população der poder suficiente, é certo que não acabará bem.
A reflexão sobre o poder e a violência é pertinente e causa um mal-estar, apesar da sensibilidade que o diretor imprime, a história é pesada e os alívios cômicos que perpassam algumas cenas é algo como um riso desesperado. Lidar com um personagem mal que não poupa a população da fome, trabalhos infantis, estupros e muita violência enquanto esbanja em seu palácio e logo após a derrocada se infiltrar disfarçado e conviver com essas pessoas dilaceradas e ainda tentando salvar seu pequeno neto - a inocência em meio a tanta odiosidade, é deveras muito complexo. Aproximamo-nos dele e à medida que a história avança e as pessoas compartilham as suas misérias que foram causadas por esse ditador, gera estranheza perante essa situação de humanização, mas percebemos que o ódio nunca é o caminho, é preciso refletir para percorrer de outra maneira, a violência que essa população quer cometer contra ele é também perversa, é um ciclo interminável de crueldades, é necessário parar para questionar. O filme propõe que pensemos nestes limites.
"O Presidente" é uma obra impactante que prima pelo debate e consciência, o regime extremista é sempre uma má escolha, o diretor sabe do que está falando, viveu na pele torturas e atentados, os filmes de Mohsen Makhmalbaf precisam ser vistos, são essenciais.
Destaque para a emocionante interpretação do pequeno Dachi Orvelashvili, é pra aplaudir de pé, suas inocentes ações causam tensão e toda a sua composição, olhares e gestuais são incríveis. O filme gera angustia e é delicadamente aflitivo.
"Reações violentas geram violência e, portanto, paz gera paz. Nossa responsabilidade, como artistas, é difundir o conhecimento. Só a cultura nos salva." (Mohsen Makhmalbaf)
Destaque para a emocionante interpretação do pequeno Dachi Orvelashvili, é pra aplaudir de pé, suas inocentes ações causam tensão e toda a sua composição, olhares e gestuais são incríveis. O filme gera angustia e é delicadamente aflitivo.
"Reações violentas geram violência e, portanto, paz gera paz. Nossa responsabilidade, como artistas, é difundir o conhecimento. Só a cultura nos salva." (Mohsen Makhmalbaf)
É um diretor muito elogiado desde os anos noventa, mas infelizmente não assisti filme algum dele ainda.
ResponderExcluirAbraço