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quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A Lei de Herodes (La Ley de Herodes)

"A Lei de Herodes" (1999) dirigido pelo mexicano Luis Estrada (A Ditadura Perfeita - 2014) é um filme de humor ácido que retrata todos os possíveis e impossíveis artifícios utilizados no meio da política para atingir o poder, expõe sarcasticamente a corrupção e o que o poderio faz com o ser humano. Carrega uma forte crítica social com personagens caricatos e inescrupulosos. Representa de forma mordaz o poder e a corrupção política no México durante o longo mandato do Partido Revolucionário Institucional (PRI). O longa foi produzido em 1999, portanto, o país ainda estava sob domínio do partido. Uma importante obra para evidenciar e denunciar essa ditadura. 
A história se passa durante o mandato de Miguel Alemán Valdés, em 1949, e conta a história dos habitantes da localidade mexicana de San Pedro de los Saguaros, um povoado rural habitado por nativos indígenas, que lincham e decapitam o prefeito local com um facão quando na tentativa deste fugir do povoado com o dinheiro público. O período eleitoral se aproxima e o governador Sánchez (Ernesto Gómez Cruz), não disposto a ver arruinada sua posição por um escândalo político, ordena que Fidel López (Pedro Armendáriz Jr.) o secretário de governo, nomeie um novo prefeito para San Pedro. López decide que o mais indicado até que se realizem as próximas eleições é Juan Vargas (Damián Alcázar), um inofensivo funcionário da limpeza e antigo militante do PRI, que seguramente não será tão corrupto como seu antecessor. Juan chega à aldeia sem lei, ou melhor, apenas com a lei da corrupção. Vários métodos são experimentados e o crime parece o único a resultar. O outrora simples e honesto Juan transforma-se no mais abominável político pronto para fazer de tudo e conseguir extorquir dinheiro do povo.
Juan tem ideias para fazer crescer o povoado, mas sem verbas fica difícil e vendo a situação piorar decide pedir dinheiro ao governador, que recusa as propostas, então Juan quer renunciar, mas é aconselhado e ainda ganha uma pistola e a Constituição, onde há tudo que precisa saber, nessa parte o diálogo é primoroso e reflete muito bem o momento em que Juan começa a ser corrompido. A lei de Herodes o toca, pois como se diz: "Ou te calas ou te prejudicas". Ao voltar Juan já não é mais o mesmo, a partir do momento que descobre os benefícios que tem ao cobrar impostos abusivos se transforma num tirano, a pistola serve para amedrontar a população e a Constituição permite que ele crie mais impostos e aplique multas. As situações que se desencadeiam são hilárias e cada vez mais Juan ultrapassa os limites da moral, a interpretação de Damían Alcázar é magistral, antes um homem de coração puro que segue a boa conduta, se envolve nas teias da corrupção e a ganância o torna violento, passando por cima de qualquer um. Os impostos do povoado aumentam e novos são criados, até o bordel é tomado para si, quando promete eletricidade no local, vemos que somente o poste é erguido, as farsas, as mentiras, todos os podres que permeiam o antro político são explicitados sem receio algum.

Satisfatório assistir um filme inteligente e com humor certeiro, parece ser atemporal também, já que passa-se os anos e o cenário continua praticamente igual. São filmes como esse que elucidam que quem tem o poder nas mãos nunca vai ser um alguém bom. O ser humano apodrece-se em vida pela ganância, atropela os demais para atingir seu objetivo, mesmo que para isso precise utilizar a violência. Juan percebeu que era fácil se dar bem ali no povoado, mas quando alguém tentava atrapalhar seus planos não pensava duas vezes, arquitetava um meio de colocar a culpa em outro e até matava se fosse preciso. 

"A Lei de Herodes" é um filme que demonstra as manobras da corrupção no México, mas que acaba se tornando universal. Com um humor cortante, personagens desprezíveis e um roteiro envolvente consegue retratar a realidade das falcatruas políticas. Luis Estrada se configura como um dos cineastas contemporâneos mais interessantes, ele é um exímio diretor, suas obras contêm uma enorme força e são essenciais, pois tratam de temas pertinentes, principalmente envolvendo política e sociedade com um tom satírico. Grande filme, grande diretor!

Um comentário:

  1. Eu havia lido aqui sobre "A Ditadura Perfeita" e não conhecia este "A Lei de Herodes".

    Fiquei mais interessado no segundo, vou procurar.

    Sobre o México, infelizmente o país é uma versão do Brasil piorada, sendo ainda mais corrupto e violento.

    Duas outras obras que mostram bem esta situação são "Amores Brutos" e o doc "Cartel Land".

    Abraço

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