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terça-feira, 26 de abril de 2016

Meu Rei (Mon Roi)

"Mon Roi" (2015) dirigido por Maïwenn (Polisse - 2011) é um filme dolorido e magnificamente bem atuado por Vincent Cassel e Emmanuelle Bercot, a história nunca perde o fôlego, acompanhamos a trajetória de um relacionamento amoroso, desde a sua fase inicial até a dura decisão da separação, seja a física, mas, principalmente, a psicológica.
A abordagem imparcial da diretora ao retratar um relacionamento abusivo é interessante, a personagem sofre pelo fato do marido ser um sacana, mas ela o ama compulsivamente, o coloca num pedestal. Muito se diz sobre a paixão e o como ela arrebata as pessoas, inclusive deixando-as doentes de corpo e mente, Tony (Emmanuelle Bercot) é esse exemplo, quando se depara com Georgio (Vincent Cassel) em uma boate fica encantada com seu jeito desprendido e sedutor, ela já o conhecia da época de garçonete e foi até ele, mas este não a reconheceu. No fim, ele resolve ir até ela e os dois começam a se envolver. Tudo é maravilhoso e divertido no início, não há porquê se preocupar, vivem momentos intensos e loucos, e então decidem se casar. Tony acaba cedendo ao desejo de Georgio de ser pai, e o fato é que tudo começa desmoronar ainda quando está grávida, ele não para em casa, vive em festas com seus amigos moderninhos e ainda por cima se preocupa demasiadamente com uma modelo que já foi sua namorada. Tony entra numa crise absurda e Georgio decide morar em outro apartamento, porém continuando casados, o que só faz piorar as coisas. São cenas intensas vividas pela atriz Emmanuelle Bercot, ela vai da felicidade plena à ruína em pouco tempo, a sua personalidade ganha uma aura pesada e isso é passado ao espectador com muita naturalidade, ficamos péssimos com as situações retratadas. 
Tony é diferente de Georgio, ela é uma advogada centrada, séria, ele é dono de restaurante, charmoso e bon vivant, durante a conturbada relação ela vai descobrindo segredos e ele vai se deparando com uma mulher neurótica. São altos e baixos, juntos se fazem mal, separados também não conseguem viver. 

O filme é todo construído de flashbacks e a transição para o passado é muito sutil. O início se dá com Tony internada em um centro de recuperação após um grave acidente de esqui. Dependente da equipe médica e de analgésicos, ela tem tempo para olhar para trás e avaliar o relacionamento turbulento que ela experimentou com Georgio. Por que eles se amam? Quem é realmente o homem que ela amou? Como ela foi capaz de submeter-se à uma paixão sufocante e destrutiva? Para Tony, é uma reconstrução difícil que agora se inicia, um trabalho corporal que talvez permita que ela definitivamente sinta-se livre.

"Mon Roi" é um filme duro, difícil passarmos pelas cenas ilesos, mas é um retrato honesto das tensões de um relacionamento que acaba pelos mesmos motivos que se iniciou. Colocar o outro num pedestal certamente acarretará danos futuros, afinal todos têm defeitos, manias e segredos. Se recompor é trabalhoso, Tony continuará tentando entender o que lhe aconteceu. A bela cena final resume isso.

Um comentário:

  1. Mais uma ótima dica. Vincent Cassel é um grande ator que sempre escolhe papéis marcantes.

    Abraço

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