"Queda Livre" (2014) dirigido pelo interessante diretor húngaro György Pálfi (Taxidermia - 2006) é uma mescla de absurdo, ironia e fantasia. É incrível que seu filme seja ao mesmo tempo belo e grotesco. A tristeza está disfarçada de cinismo, há inúmeras críticas, mas pela surrealidade fica difícil acertar o que de fato quer dizer. O filme reúne algumas histórias a partir do suicídio malsucedido de uma velha (Piroska Molnar), ela se joga do alto do prédio de onde mora, mas se levanta e junta suas coisas. Ao ver o elevador quebrado precisa subir os sete lances de escada, e daí a cada andar conhecemos as figuras que habitam o local e suas excentricidades.
É humor negro que não acaba mais, o diretor oferece ao espectador uma visão bizarra e ampliada do como o ser humano se comporta, os contos são todos interligados e a beleza fica por conta da fotografia, cada um tem a sua paleta de cores e ângulos diferenciados, além da trilha sonora eletrônica de Amon Tobin que intensifica toda a estranheza.
No primeiro conto observamos um guru tentando fazer seus alunos acreditarem no poder da mente podendo até ultrapassar uma parede. Como em todos os outros as possibilidades de interpretação são abertas, somos atraídos a prestar atenção e a desvendar os significados que refletem na sociedade em que vivemos. Na segunda história temos uma festa de cantores líricos, cuja anfitriã está nua, ela recebe os convidados enquanto o marido a apresenta a homens que a elogiam, aqui fica fácil perceber que a nudez dela significa invasão, o desconforto pelos olhares e também pelo marido a deixar de lado. Na terceira há o casal com fobia de germes, para se tocarem se enrolam em papel filme, a paranoia pela qualidade de vida chega ao ponto da obsessão.
O quarto episódio e mais escrachado de todos é em formato de sitcom, com direito a claque de risos, a mulher divide o apartamento com dois homens que se comportam como crianças, uma perfeita e dolorida alfinetada nesses programas imbecis que são exibidos aos montes. Na quinta história é sobre uma mulher que se submete a uma cirurgia que coloca seu bebê para dentro do útero novamente, ao meu ver é uma maneira bem surreal de abordar o aborto. Na sexta um menino que sofre bullying dos pais, alimenta seu medo na forma de um gigantesco boi parado a sua frente.
Acompanhamos a velha subir as escadas em total cansaço, seja o físico ou psicológico, o longa tem muitas passagens surreais e absurdas, mas que conversam com situações reais, toda a depressão é refletida com acidez e rimos dela.
"Queda Livre" é um longa especial, caprichado e que exige atenção do espectador, mas em nenhum momento se torna cansativo ou chato, é super atrativo, envolvente, e enigmático.
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