“Gluckauf”
(2015) dirigido por Remy van Heugten é um filme holandês intenso marcado pela
dura relação entre pai e filho.
Em Limburg, área onde havia uma próspera
indústria de mineração, Lei (Bart Slegers) está desempregado e vive de pequenas maracutaias, divorciado da
mulher ele busca o filho Jeffrey (Vincent van der Valk) para viver consigo. Sua
vida desregrada afeta a personalidade do garoto que cresce em meio a pobreza e
violência. Lei o ensina a caçar e conforme se desenvolve sua índole se torna
cada vez mais agressiva. O amor entre eles é sufocante, são bandidos modernos e
lutam para sobreviver na província de Limburg, no sul holandês empobrecido e
negligenciado. Jeffrey trafica drogas e namora Nicole (Joy Verberk), enquanto
seu pai vende coisas roubadas e de segunda mão. Lei está endividado com Vester
(Johan Leysen), um criminoso impiedoso e, Jeffrey como um bom filho decide quitar essa
dívida, mas para isso acontecer acaba se submetendo a situações degradantes. Vester vê futuro em Jeffrey e lhe confere
serviços que o fará ascender na organização. Seu pai ao ver que seu filho se
sobressaiu entra em conflito consigo mesmo, um misto de inveja e preocupação o
invade.
“Gluckauf” é uma expressão dos mineiros alemães, que quer dizer boa
sorte ao tentar achar alguma recompensa, e também algo como voltar em
segurança pra cima. Os personagens são antipáticos, mas torcemos por eles, é desolador observar
o quão longe as pessoas estão dispostas a ir para tentar sobreviver. Lei não é
mau, seu desespero e angústia vai aumentando conforme os acontecimentos. Ele ao
mesmo tempo que protege Jeffrey o inveja, se preocupa, mas também se sente
desmerecido. Bart Slegers como Lei está impecável, uma atuação densa,
impossível não se emocionar, suas expressões são dilacerantes. A imagem do
poster exemplifica bem. Vincent van der Valk como Jeffrey também está ótimo,
apesar de demonstrar pouco suas emoções, o filme mantém seu ritmo e prima pela
dramaticidade envolvendo essa complicada relação.
A decadência dos personagens
em razão do desemprego e a fé que depositam na criminalidade fere quem assiste
essa obra. O filme exibe contrastes, a natureza verdejante e a brutal e cinza
realidade, o amor de pai e filho e a feiura da pobreza e o abandono do local. Uma
curiosidade é que o idioma falado é o limburguês, um dialeto falado na
província.
Um
ponto a se acrescentar é que as minas foram fechadas pelo governo por ser um
trabalho considerado desumano, só que a situação das pessoas se tornaram tão
graves quanto, ou elas iam embora ou ficavam a mercê do nada. Lei e Jeffrey são
pessoas comuns que diante a falta de oportunidade se enveredaram pelo crime. O
desfecho é uma porrada na cara e entristece, o sentimento de humanidade
floresce e queremos um final pelo menos esperançoso, mas infelizmente não vêm. Nicole,
a namorada de Jeffrey também sofre as consequências e Lei de alguma forma tenta
expiar suas culpas, as sequências finais dilaceram, observamos o fundo buraco
que o personagem cavou para si.
"Gluckauf" é um filme denso e que emociona, também conta com uma bela trilha sonora, "Mine Again" de Douwe Bob é lindíssima. É um filme inesquecível, o olhar de Lei penetra a alma e fica difícil não derramar algumas lágrimas.
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