"Jauja" (2014) de Lisandro Alonso (Liverpool - 2008) é um filme difícil e até maçante, mas não deixa de ser interessante. Rodado no formato clássico 4:3 com contornos arredondados e uma fotografia estonteante em cores saturadas, o deserto é o grande protagonista, os planos abertos exemplificam a sua importância em relação aos personagens que quase nunca são mostrados de perto.
Os dinamarqueses Gunnar Dinesen (Viggo Mortensen) e Ingeborg (Viilbjørk Malling Agger), pai e filha, viajaram de seu país de origem para um deserto que, aparentemente, situa-se nos confins da terra. A sua filha acaba fugindo ao se apaixonar e o pai parte em uma violenta busca para encontrá-la. A única certeza é que todos que tentaram se encontrar neste lugar se perderam pelo caminho. Jauja é uma terra mítica repleta de felicidade e abundância, assim como Eldorado, mas todos que tentam chegar ao local acabam se perdendo.
O filme se passa na Patagônia do século XIX, durante o período das colonizações, onde está havendo muitos conflitos, um personagem constantemente citado mas que nunca aparece é o ex-general Zuluaga, que divide opiniões sobre sua índole. Correm alguns boatos sobre ele, como por exemplo estar cometendo roubos vestido de mulher, o que para os oficiais chega a ser fantasioso. Corto, o jovem soldado é incumbido de saber mais sobre isso, mas a noite rouba um cavalo e foge com a filha de Gunnar, que ao se dar conta fica enraivecido e parte sozinho em busca de Ingeborg.
O filme tem poucos diálogos, o que importa de fato é a imagem e a sensação que ela provoca, a angústia, a solidão e o desespero do personagem é tão forte que é inevitável não se sentir mal, a demora incomoda. O cenário é grandioso, o deserto engole a vida humana, chega um momento que a incansável busca de Gunnar ultrapassa a lógica de tempo e espaço. Entre alucinações algumas questões ficam pairando no ar, e o pior é que as respostas das quais criamos em nossa mente são insatisfatórias, somos jogados junto com o protagonista naquele deserto do qual não há escapatória, apenas andar, andar para nada encontrar.
Jauja se assemelha a um sonho, uma miragem, ou um amontoado de memórias onde nada faz sentido. Exige-se paciência, a narrativa não convencional nos deixa inquietos, mas a beleza está presente para quem quiser vê-la, além de que o filme deixa uma questão dificílima de responder. A proposta do filme é diferente, portanto para quem aprecia algo mais experimental é aconselhável, sua estética é linda e sua narrativa é cheia de possibilidades. O silêncio é bem trabalhado e o sentimento de agonia permeia toda a trama, é um perder-se na imensidão. Introspectivo e surreal é uma obra para se admirar e adentrar num universo repleto de perguntas.
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