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terça-feira, 20 de março de 2012

Era uma Vez na Anatólia (Bir Zamanlar Anadolu'da)

Um grupo de homens contendo policiais procuram por um corpo nas distantes estepes turcas, assim o diretor Nuri Bilge Ceylan nos conduz a uma fábula lenta e meditativa em cima dos personagens que compreendemos aos poucos, e também a real intenção do filme. Os medos, as inseguranças de cada homem naquela busca incansável.
O filme caminha vagaroso, indo a lugares cada vez mais inóspitos, de repente vemos aquele bando de homens numa pequena casa comendo e bebendo depois de uma exaustiva procura, descansam apenas para recomeçar, destaca-se o rosto de uma mulher sob a luz do lampião, depois de quase uma hora de filme, eis que aparece a primeira figura feminina, os homens abobados com tanta beleza depois de tanto cansaço. O longa é essencialmente masculino. Vemos um médico, um promotor, um motorista, um policial, dois escavadores, um detetive e o bandido. Aos poucos vamos conhecendo-os e entendendo-os. Apesar de ter uma trama policial, não espere muita ação. O propósito não é encontrar motivos para o assassinato, culpados, etc.
Há uma cena incrível do promotor descrevendo a maneira como o morto foi achado e tal. Vê-se a frieza da profissão. Nos apegamos mais a figura do médico, estranho entre os demais, chega mais próximo de como nos sentimos ao ver o discorrer da história, ele olha para o assassino de modo diferente, é mais perceptivo do que os outros. A fotografia é outro ponto de destaque, é excentricamente bonita, especialmente a noturna, toda amplidão e o silêncio que rodeia essa jornada faz jus ao nome "Era uma vez na Anatólia", nos dando a sensação de fábula. Apesar de ser um filme longo, nos prende, é totalmente estimulante, temos vontade de conhecer aqueles homens, todos os seus segredos e seus medos. Principalmente de Kenan o assassino, que descobrimos muito pouco, nada fala, apenas dirige olhares direcionados e nada mais.
São histórias que se diluem conforme o desenrolar, quem sobra é apenas o promotor e o médico, por acaso aqueles que conhecemos um pouco mais durante a busca do corpo. Ao final ficam dúvidas, um ciclo que não se fecha, mas que mesmo assim não deixa no ar.

É sempre bom ver algo que surte efeito em nós, mesmo que não seja mostrado explicitamente, mas que apenas sugira, assim temos a oportunidade de julgar o que é importante ou não. Cada um tira do filme algo e com certeza cada um vê de forma diferente. A cena final que o médico-legista faz a autópsia do corpo é uma das mais interessantes, não vemos nada, ele apenas sugere, com palavras e olhares. Descobre-se mais e mais segredos. Dúvidas, conclusões. E opções de escolha. Nuri Bilge Ceylan (Três Macacos) traz um filme inteligente, estimulante e muito perceptivo.
Uma trama de fundo policial que se estende a dramas pessoais de cada homem ali presente. Um filme que pesa sobre nós e que fica para sempre, com certeza contarei diversas vezes a história que vi em "Era uma vez na Anatólia".

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