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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Caché

 "Caché" (2005) dirigido por Michael Haneke é um filme lento e que não faz questão de nos dar respostas, ele segue uma linha de suspense e tensão, o efeito é pós filme, impossível não se incomodar com as atitudes dos personagens que refletem muito sobre o nosso cotidiano.
Um dia Georges (Daniel Auteuil) e sua esposa Anne (Juliette Binoche) recebem uma fita de vídeo com imagens de sua casa, que fora filmada por uma câmera instalada na rua. Depois disso começam a receber desenhos sinistros. Assustado, o casal tenta descobrir o autor daquelas misteriosas ameaças que perturbam a paz de sua família. Logo percebem que quem os persegue conhece mais sobre o seu passado do que eles poderiam esperar. Georges é um apresentador de TV de muito prestígio, um intelectual, pai de família e com uma vida cômoda, ele é o típico homem que não pensa um segundo sequer nos outros, tudo está muito arrumado em sua maravilhosa forma de viver, até que as fitas misteriosas começam a desarranjar essa calmaria que o rodeia.
De início a mulher de Georges pensa ser um fã louco, ou alguma brincadeira infantil, mas à medida que as fitas vão chegando juntamente com desenhos estranhos a situação vai ficando cada vez mais tensa entre o casal. Georges começa a suspeitar de uma pessoa que fez parte de seu passado, mas em nenhum momento ele conta para sua esposa, no que faz ela sofrer e não entender o que de fato acontece. Georges vai atrás do homem que supostamente está enviando as fitas e os obscuros desenhos, a partir desse momento conhecemos um pouco do passado desses personagens e suas culpas, e a maneira como cada um lida com o próximo. Ao chegar na casa de Majid (Maurice Bénichou) que fica contente em vê-lo, Georges o acusa e de forma violenta o questiona sobre as fitas, é impressionante o quão triste Majid fica, é visivelmente um homem pobre e que guarda em si mágoas, pois como a história nos mostra ele era filho de um criado da casa dos pais de Georges e quando seu pai morreu, a família queria adotá-lo, mas Georges era uma criança mimada que já nutria preconceitos e muita inveja, e fez com que levassem Majid embora. Essa angústia que Majid carrega é por ter perdido a oportunidade de ter sido um alguém melhor perante a sociedade. Assim como Georges o é atualmente, um homem bem-sucedido. 

Conforme o desenrolar percebemos que a pior pobreza é a que vem de dentro, Georges é um sujeito que não tem consciência e honestidade, ele não se importa já que se julga melhor que os outros, há tantas cenas em que ele despreza os demais, seja por preconceito ou simplesmente por atrapalhá-lo. A cena mais tocante é quando o filho de Majid vai procurá-lo, ali percebe-se toda a podridão e o egoísmo de um ser humano que faz questão de esconder os acontecimentos e passar por cima das pessoas, ele por fora representa uma coisa, mas por dentro é outra. É sempre a imagem que predomina. 
Quantas e quantas pessoas não se escondem por debaixo de suas máscaras que dão conforto e rendem uma vida bacana, porém quando certas verdades vêm a tona, não importa, com certeza farão qualquer coisa para ter de volta a tranquilidade de seu cotidiano. 

"Caché" é uma experiência abrangente e o seu final nos deixa em silêncio, a sensação é de desconforto e uma torrente de pensamentos surgem acerca desta história que nos é contada de maneira fria. Não tem como ficar indiferente. O cinema de Haneke é real e por isso perturba, mas é extremamente necessário.

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