Um homem chamado Level (Allen Lewis Rickman) chega em casa no meio de uma tempestade de neve e, mesmo tendo tido a carroça quebrada no caminho, se sente feliz. Ele conta para a esposa, Dora (Yelena Shmulenson) que um homem lhe ajudou e, vejam a coincidência, esse homem conhecia a Dora. Mas a mulher teme que o “bom homem” que ajudou o marido seja, na verdade, um espírito do mal. Depois deste conto introdutório, a câmera mergulha na realidade de Danny (Aaron Wolff) um jovem que prefere escutar música durante as aulas e fumar maconha. De repente a câmera se intromete na série de desastres que irão acertar o pai de Danny, o professor universitário Larry Gopnik (Michael Stuhlbarg). Pai de família judeu, tudo o que Larry tenta mesmo contra todos os acontecimentos é se manter um homem sério.
Esse filme pode ser visto de maneiras diferentes, uma comédia repleta de erros seguidos ou de forma inteligente e profunda. A vida castiga o protagonista como se ele fosse amaldiçoado por algum motivo, talvez por questionar demais e não aceitar os acontecimentos, ta aí o prólogo que nos explica: O homem que ajudou Level poderia ser um 'Dybbuk' um espírito mal, mas como eles não tinham certeza, ficaram com a dúvida para sempre, de certo modo amaldiçoados, e com Larry não é diferente, ele segue sua vida se perguntando o porque tudo acontece com ele, ao passo que ele deveria aceitar os mistérios da vida, pois nem tudo ou tudo não tem explicação, simplesmente acontece. Há uma reflexão surpreendente sobre a capacidade das religiões em dar conforto e apaziguar os ânimos. Também em dar "sentido na vida" de muita gente. É especialmente curiosa a forma com que os diferentes rabinos procuram consolar o inconsolável Larry. Tentando ser um bom cordeiro, ele se sente perdido quando tudo em que acreditava parece desmoronar, fica sempre na espera de algo bom acontecer para mudar sua vida, mas... Para começar, seu casamento acaba da noite para o dia. Depois, ele tem a própria honestidade colocada em cheque em um intricado plano de suborno de um aluno imigrante, que não sabe se expressar bem em inglês; o universitário Clive Park (David Kang). E para completar o quadro, ele questiona se deve ceder as tentações para ajudar o complicado Arthur (Richard Kind), cujo tem uma inteligência acima do normal que chega a ser retardado.
Todos os gestos de bondade de Larry, em resumo, parecem fadados a ser contestados e corrompidos. No final das contas, ele é um sério candidato a ser o vilão do casamento que deu errado, na universidade, sua tão desejada promoção periga não sair do papel. Enfim, Larry pode estar enfrentando um inferno astral. O que um homem sério faz nestas situações? Busca respostas em sua fé. Mas, como lá pelas tantas o rabino Nachtner (George Wyner) parece deixar claro, no fundo não existem respostas, apenas perguntas. Ou, se existem respostas, elas são irrelevantes. Porque, como Nachtner bem sentencia, "Não podemos saber tudo". Mas temos essa ideia de tentar achar lógica por todos os lados, nas coisas mais curiosas. E tão genial quanto a afirmação do rabino é a resposta de Larry: "Parece que você não sabe de nada!" E quem disse que os líderes, sejam eles religiosos, políticos ou do grupo que for, realmente sabem de algo? Nós acreditamos, no fundo, naquilo que realmente queremos. Para o bem, ou para o mal.
Os diálogos deste filme é um dos mais inteligentes que já vi, os irmãos Coen tem um humor tipico que só eles conseguem fazer. Além de questionar o sentido da vida, a preocupação constante em acharmos respostas para tudo, e a importância da família e da religião, "A Serious Man" debate a própria leitura da sociedade do "homem sério", daquele indivíduo que é respeitado e deve ter seus passos seguidos. Pura filosofia. Michael Stuhlbarg realmente dá um show no papel de Larry Gopnik. Suas reações contidas ou desesperadas são perfeitas no contexto de seu personagem. Um trabalho complexo e muito acertado. A trilha sonora é maravilhosa, basicamente por música instrumental, canções que evocam a cultura judaica e Jefferson Airplane, uma banda psicodélica de 1965. É a banda cujas músicas o garoto ouve ininterruptamente em seu rádio. No filme estão seus principais sucessos como Somebody To Love e White Rabbit. É a sonoridade desse grupo que dita o ritmo do filme em várias de suas melhores sequências.
Engraçado como certos diretores são estereotipados, os irmãos Coen tem um estilo próprio que alguns amam, outros odeiam, mas não podemos esquecer que eles tem uma certa genialidade sempre impondo uma espécie de humor aonde não se encaixaria. Suas histórias aparentemente simples, na verdade são reflexivas, onde podemos tirar nossas próprias conclusões, como nesse filme onde não se tem um fim, pois os acontecimentos da vida não cessam, continuam sem parar, e o que permanece são somente as perguntas, nada mais.
A frase que antecipa o filme é a moral da história: "É preciso aceitar tudo o que acontece a você com simplicidade" (Rashi). Essa é uma história comum contada de uma maneira diferente e perspicaz.
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