"Uma Vida Comum" (2013) dirigido por Uberto Pasolini é um filme delicado apesar de tratar de um tema sombrio, o fim da vida. Com toques de humor negro e sensibilidade a história se torna uma bela reflexão.
Obcecado por organização e meticuloso ao extremo, John May é um inventariante encarregado de encontrar o parente mais próximo de pessoas que morreram sozinhas. Quando o seu departamento é reduzido, John concentra esforços em seu último caso, o que o leva a uma viagem libertadora que lhe permite finalmente começar a viver a vida. O personagem John May (Eddie Marsan) é um ser humano peculiar, esquisito e recluso em si mesmo, seu emprego é encontrar parentes, pessoas próximas de quem acabou falecendo completamente só. Ele vai à casa da pessoa, examina com todo cuidado e traça um perfil e possíveis relações, a maioria sem resultado. De repente, fica sabendo de sua demissão após 22 anos de dedicação, John cuida do enterro e de todos os trâmites e isso acaba sempre dando prejuízo ao chefe que diz que a melhor alternativa é cremar os corpos e espalhar em um jardim.
A vida de John é o trabalho, ele tem um ritual em que come diariamente a mesma coisa, folheia seu álbum de fotografias com os mortos dos quais realizou o enterro e arruma sua coleção de CD's que utiliza nos velórios.Três dias antes de seu desligamento do emprego ele vai tentar resolver o caso Billy Stoke, que descobre ser seu vizinho, um homem que vivia sozinho rodeado por garrafas de bebidas alcoólicas. John coleta pertences que possam ajudar a encontrar a família e avisar sobre o ocorrido. Isso tudo acaba mudando a forma com que vê o mundo, ele precisa viajar e convencer a filha de Billy a se despedir do corpo. A integração com um mundo novo o faz experimentar perspectivas inéditas, a demissão e a busca pela família de seu último caso o modifica. Eddie Marsan está esplêndido, um personagem todo contido, melancólico, mas que mesmo assim ilumina por ser tão sensível.
É triste e até dolorido pensar no medo de ser esquecido, mas o fato é que por mais que sejamos sozinhos deixamos vestígios ao longo do caminho que percorremos, detalhes particulares de nossa personalidade, fotografias e outras tantas coisas que dizem muito sobre nós. Querendo ou não criamos relações e vínculos necessários, familiares, pessoas do trabalho, amigos passageiros ou duradouros, etc...
O maior problema é que a morte não é um assunto que gostamos de falar, mas é inevitável, como dizem: "a morte é a única certeza que temos", portanto aproveitemos as belezas imensuráveis que a vida nos proporciona e os afetos construídos.
Assim como seus "clientes" John estava morto, mas em vida, e isso é o pior, ele estava alheio a tudo, sem desejos, ambições e paixões. Mas, felizmente em dado momento enfim despertou-se. O filme nos faz questionar o nosso próprio medo ao lidar com o tão temido fim. A trajetória de John May me lembrou a seguinte frase de Montaigne:
"Qualquer que seja a duração de nossa vida, ela é completa. Sua utilidade não reside na quantidade de duração e sim no emprego que lhe dais. Há quem viveu muito e não viveu. Meditai sobre isso enquanto o podeis fazer, pois depende de vós, e não do número de anos, terdes vivido bastante."
"Uma Vida Comum" é um filme simples que cativa pelo personagem e por chegar bem próximo de nós. Um belo exemplar que reflete sobre o morrer!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
SE FOR COMENTAR, LEIA ANTES!
NÃO ACEITO APENAS DIVULGAÇÃO.