"Hannah Arendt" (2012) de Margarethe von Trotta é um filme admirável e instigante, é uma ótima oportunidade de conhecer um pouco da filósofa que chocou o mundo com suas ideias que fugiam do lugar comum. O filme é muito inspirador a nós espectadores, já que inevitavelmente pesquisamos a respeito após seu término por nos fazer refletir sobre as vertentes do pensamento humano.
A história começa quando Hannah depois de acompanhar o julgamento do criminoso nazista Adolf Eichmann em Jerusalém, ousa escrever sobre o Holocausto como nunca havia sido feito antes. Seu trabalho provoca um escândalo imediato, e Arendt permanece firme enquanto é atacada por amigos e inimigos na mesma medida. Mas enquanto a imigrante judia/alemã luta para romper suas ligações dolorosas com o passado, a sedutora mistura entre arrogância e vulnerabilidade de sua personalidade é exposta, revelando uma mulher lapidada pelo exílio.
O filme foca no episódio marcante no pós-segunda guerra mundial, quando Hannah pede para a revista The New Yorker enviá-la como correspondente a Jerusalém para escrever um artigo sobre o julgamento do nazi Adolf Eichmann, que era encarregado de levar os judeus aos campos de concentração para serem executados. Com o fim da Segunda Guerra, ele escapou para a Argentina com o apoio de religiosos da igreja católica, o governo de Israel por intermédio de Mossad, descobriu o nazista em Buenos Aires, sequestrou-o e levou-o para julgá-lo em Jerusalém, julgado foi enforcado na prisão de Ramlet em 1962. Durante o julgamento Hannah vai compreendendo algo que os outros não viam, o que ela descreveu como a banalidade do mal, não caracterizando o mal em si, mas o ser humano, Eichmann não era um monstro, ele era um homem qualquer, desprovido de pensamento e que simplesmente executava ordens diante a um líder que lhe dava uma direção. Hannah foi muito criticada e suas ideias geraram uma grande controvérsia na comunidade judaica internacional, até os seus amigos viraram as costas, principalmente quando disse que muitos judeus, como o M.C Rumkowski contribuíram para o holocausto.
Barbara Sukowa está magnífica em seu papel, a postura e a precisão das palavras ajudaram muito para a densidade do filme, que consegue abranger tanto a vida pública e pessoal de Hannah, como o processo de escrita do artigo sobre Eichmann, todo o seu pensamento filósofo-político, e a mulher amável com seus amigos e marido, também mostra a relação marcante que teve quando mais nova com o filósofo Heidegger, que acabou se filiando ao regime nazista.
O pensamento mór que o filme expõe é que a banalidade do mal não está nos indivíduos de índole má, mas no homem que abre mão de pensar e refletir sobre seus atos, assim perdendo a noção de humanidade, a moral também se perde. Hannah viu na figura de Eichmann um ser humano normal que se absteve de questionar as ordens, no que tornou o crime do holocausto em algo banal e a morte de milhões de pessoas supérfluas, segundo Hannah ele era uma pessoa medíocre incapaz de ver a enormidade de tal horror. Quando um dos juízes pergunta a Eichmann se nunca vivera uma contradição entre o dever e a consciência, ele responde que o dever sempre estava acima.
"Hannah Arendt" é um ótimo filme que disserta sobre a natureza humana e o como não pensar é nocivo. A obra retrata um episódio interessante e conturbado desta mulher que foi odiada por colocar seus conceitos em voga, é um recorte da História que merece atenção, principalmente para incentivar a reflexão sobre um dos maiores crimes cometidos contra a humanidade.
Os estudos de Hannah são questionáveis por trazer perspectivas diferentes, e isso é bom, a discussão agrega. O filme não te faz tomar partido, apenas mostra ideias virtuosas desta que foi uma grande pensadora do século XX.