"Inside Llewyn Davis" (2013) dirigido pelos irmãos Coen (Um Homem Sério - 2009), cuja marca são seus personagens em sua maioria decadentes, e sempre marcados por um homem nada convencional, apresenta neste um fracassado cantor folk, chamado Llewyn Davis, interpretado maravilhosamente pelo talentoso Oscar Isaac. Ele é um cara que não tem absolutamente nada, vive de sofá em sofá. Llewyn está claramente cansado de percorrer atrás do sucesso e quando tem alguma chance sempre se apresenta de forma avessa ao mercado. Depois de perder o amigo com quem fazia dupla, as coisas pioraram e muito, ainda tem que lidar com a gravidez de Jean (Carey Mulligan), uma amiga com quem saiu algumas vezes e que atualmente namora Jim, um músico promissor, interpretado por Justin Timberlake. E também precisa cuidar de um gato, que por descuido escapa do apartamento dos Gorfein, um casal amigo. Inclusive o gato é o único a receber cuidados e proteção de Llewyn, que basicamente não se preocupa com nada. Mas, mesmo assim o gato some do apartamento de Jean, ele acaba reencontrando o gato mais tarde, só que ao levar de volta para seus amigos, eles constatam que não é o mesmo.
Levemente inspirada na biografia do músico Dave Von Ronk, que viveu a vida toda em Nova York ao lado de Bob Dylan, Joan Baez, Joni Mitchell, entre outros que conseguiram alcançar o sucesso, já Ronk nunca o atingiu.
É um filme que arrebata, principalmente pela sua linda trilha sonora, a cada canção cantada por Llewyn é uma torrente de emoções. A música flui naturalmente dele. Vem do âmago. O cenário é o início dos anos 60, o folk ainda estava buscando espaço. Os irmãos Coen não caem em obviedades, não há reviravoltas no roteiro, mas a intensidade dos momentos vividos por um músico fracassado que tem a música cravada em seu ser é envolvente, tenso e dolorido.
A música emana deste personagem, cujos olhos acentuam um cansaço e uma melancolia imensurável. É um sujeito recolhido, que não sabe se conectar, mas sempre encontra pessoas que o ajudam, seja com um sofá ou dando trabalhos extras, pois ele praticamente não ganha nada com suas apresentações. A cena em que Llewyn é chamado por Jim para gravar a música "Please Mr. Kennedy" no estúdio é impagável, ele não poupa comentários e ainda reclama da letra. É realmente hilário. As cenas com o gato também são ótimas, parece ser o único vínculo que ele estabelece. O personagem de Ocar Isaac cativa, mesmo tendo os defeitos aflorados e estragar todas as relações. O diferencial neste filme é exatamente contar o oposto, como os próprios diretores disseram: histórias de sucesso existem aos montes.
Recheado de cenas maravilhosas, destaco quando Llewyn tem a oportunidade da sua vida e se apresenta em frente a um produtor musical, ele viaja horas, passa por maus bocados, e no momento decide tocar uma canção linda e hipnotizante chamada "The Death of Queen Jane", mas ao terminar o produtor simplesmente lhe diz que não vê dinheiro ali, não é comercial. Há uma quebra de sentimentos, pois a canção é tão poética, melancólica, e quando acaba o cara olha e diz secamente que não serve.
Antes de chegar a este lugar ele pega carona e no carro está um homem que assim como ele é a decadência em pessoa, mas que não perde a oportunidade de ser sarcástico, nesta parte graças ao grande John Goodman a característica tão marcante dos irmãos Coen aparece, o humor cáustico.
Particularmente "Inside Llewyn Davis" me fascinou, não é um filme que agrada a todos e tende a ficar de lado, mas para quem curte a atmosfera dos filmes dos irmãos Coen e uma trilha sonora cortante com belas músicas no estilo folk, é um prato bem cheio. A produção musical é de T-Bone Burnett, responsável pela trilha de "E aí, Meu Irmão, Cadê Você?"
A escolha de Oscar Isaac para o papel foi perfeita. Impossível não escutar toda a trilha sonora após o término. A música "Hang Me, Oh Hang Me" que abre o filme é uma das mais lindas, assim como aquela que ele canta para o pai "The Shoals of Herring", entre tantas outras.
A história de Llewyn Davis não vai à lugar algum, mas não deixa de ser interessante. É um filme melancólico, tocante e irônico. Vale a pena ver!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
SE FOR COMENTAR, LEIA ANTES!
NÃO ACEITO APENAS DIVULGAÇÃO.