"O Capital" (2012) é dirigido pelo cineasta grego-francês Costa-Gavras (O Corte - 2005), especialista em filmes com teor político. O capitalismo é selvagem e beneficia somente os ricos, no filme vemos essa realidade, e sobretudo a respeito dos bancos que em nome do lucro agem de maneiras antiéticas.
A história segue Marc Tourneil (Gad Elmaleh), que faz qualquer jogo para assegurar sua posição como presidente de um banco francês, cargo que lhe foi dado temporariamente depois que seu antecessor é afastado devido a um tratamento médico. Digladiando-se com executivos norte-americanos, instituições financeiras japonesas e colegas que não veem a hora de roubar seu cargo, Tourneil aproveita as horas vagas para seduzir e ser seduzido pela modelo Nassim (Liya Kebede).
É com muita ironia e cinismo que a história se desenrola, Marc por vezes confidencia detalhes olhando para a câmera, ele exemplifica bem o perfil de magnata que é movido a dinheiro e que a qualquer momento está disposto em arquitetar meios para lucrar, uma das tantas jogadas que aparece no filme é a inspirada na reforma de Mao Tsé-Tung, quando Marc organiza a demissão em massa dos funcionários das filiais do banco ao redor do mundo, o bônus por cada demissão gera um aumento significativo nas ações, ou seja, suas contas nos paraísos fiscais engordam. Parte do banco Phenix caiu nas mãos de um grupo de investimentos estadunidense e lá as regras são outras. Liderado por Dittmar Rigule (Gabriel Byrne), que exige medidas gerenciais das quais não cabem ao modelo europeu. Na hora das transações financeiras os rivais se tornam aliados, então Marc faz um acordo, justamente com o cara que queria derrubá-lo e promove uma cilada para os americanos.
A interpretação de Gad Elmaleh é a grande sacada, já que o personagem pede frieza, muita ambição e inescrupulosidade, por vezes a esposa dele pergunta para quê necessita de tanto dinheiro, pois ela já era rica de berço e ele antes de ser presidente tinha um cargo de confiança, Marc diz que é para ser respeitado e ter poder. A ambição, o cinismo, e principalmente o poder gerado pela posse do capital é algo afrodisíaco.
A obsessão que Marc sente pela modelo Nassim nos deixa confusos, não sabemos se ela faz parte de alguma armadilha, ele fica praticamente cego pelo simples desejo de possuí-la. Também tenta se aproximar da economista workaholic Maud (Céline Sallette), muito inteligente, evidentemente ética e disposta a desvendar os mecanismos. Isso a faz ficar por fora, e ninguém a ouve.
A lógica é a do jogo, desde o início quando foi escolhido como presidente temporário, Marc imaginou que aquilo seria uma estratégia, mas ele foi mais a frente e mergulhou para poder tirar proveito de tudo. A ascensão foi rápida e logo começaram as intrigas dos membros do conselho administrativo. De Suze (Bernard Lecoq) é o cara que quer derrubá-lo, mas Marc já sabia disso, aliás ele sabe muito sobre todos, pois contratou um investigador, Marc rouba, mas também é roubado, ele ascende financeiramente e decai moralmente.
Ao final do filme Marc diz: "Eu sou o Robin Hood moderno, roubo dos pobres para dar aos ricos."
É impossível não se interessar pelo todo, por mais que trate de um assunto que as pessoas não compreendam bem, eu mesma não entendo bulhufas como é que funciona o sistema financeiro e certos jogos políticos. Sou leiga e inocente neste aspecto, mas o básico todos deveriam saber, que os grandes enganam e sugam dos mais pobres.
"O Capital" segue na linha do suspense, é incisivo, tenso e coloca nos diálogos pontos extremamente importantes. Costa-Gavras é mestre na arte de fazer cinema com conteúdo político, para quem não tem paciência com este tipo de filme é válido conhecer sua filmografia, ela não é didática ou panfletária, mas faz o que é necessário, exibir a realidade do sistema de forma fria e atual.
"Dizem que o dinheiro é um instrumento. Estão errados. O dinheiro é o amo. Quanto melhor o serve, melhor ele te trata."
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