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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Can

Dirigido pelo turco Rasit Çelikezer, o filme "Can" (2011) retrata a busca pela aceitação, conflitos de casais, a ambição, o tráfico humano, entre tantas outras coisas que atingem a sociedade. De maneira delicada aborda a inocência do pequeno Can em meio a tudo isso.
Depois de fugir para Istambul para escapar das objeções de suas famílias, Cemal e Ayse estão felizes em seu casamento. A única coisa que falta em suas vidas é o bebê que eles tanto gostariam de ter, mas descobrem que Cemal é infértil. Frustrado e envergonhado, ele pede que Ayse finja estar grávida, planejando adotar um bebê de forma ilegal, que vai chegar nove meses depois. Mas quando o bebê chega, em circunstâncias duvidosas, Ayse se sente impossibilitada de desenvolver qualquer sentimento materno por ele. Como ela e Cemal vão ficando cada vez mais ressentidos um com o outro, o casamento começa a desmoronar. No cenário de uma cidade com um próspero mercado de tráfico humano de crianças, o diretor Rasit Çelikezer criou uma exploração complexa e surpreendente do que significa ser pai.
Muitas pessoas têm o conceito de família assim: casamento + filhos = felicidade, mas nem sempre funciona, é preciso amadurecer a ideia, afinal é uma vida da qual os pais terão responsabilidade, e o importante também é entender que o amor nasce de várias maneiras, no filme Ayse não consegue amar a criança vinda de sabe-se lá de onde, ela rejeita, por isso Cemal não suporta a rotina, sua mulher está mudada e ele acaba buscando um outro caminho para si. Deixa a esposa e o bebê sozinhos.
Mais tarde vemos Can já garotinho e Ayse com o mesmo semblante de descaso com ele, todos os dias sai para trabalhar e o deixa sentado num banco de praça até que o seu expediente termine. Ele não frequenta escola, não tem amigos e pouco fala. Em dado momento o menino decide andar pelas ruas, ele sai marcando com um giz os lugares por onde passa para que consiga voltar antes de sua mãe chegar, mas um dia se atrasa e Ayse volta sozinha para casa, ela se preocupa, mas não demonstra. Ele acaba sendo encontrado e a polícia a interroga. Desse dia em diante ela o deixa em casa. Can passa o dia todo olhando as crianças brincarem.
Desenvolvemos um carinho muito especial por Can, mesmo não recebendo amor ele demonstra pelo olhar sentimentos bons, em várias situações tenta conquistar sua mãe, seja colocando a comida na mesa, ou guardando o dinheiro que ela juntou quando a casa é invadida. Essas coisas aos poucos vão amolecendo o coração de Ayse, pois ela percebe o quanto aquele menino a ama.

Paralelamente vemos Cemal, casado com uma garota rica e mimada, e um trabalho na empresa do sogro. Acontece que essa garota engravida e ele fala para o sogro que isso é impossível, o filho não pode ser dele, só que o homem rudemente faz ele aceitar a situação, e a ambição de Cemal fala mais alto, decide suportar traições, morar numa casa que não é dele, usufruir de um luxo que não lhe traz felicidade e cuidar de uma criança que não é sua, tudo por causa do dinheiro. Não dá para definir o sentimento que temos com este personagem, é uma mistura de raiva e pena.
"Can" é um filme maravilhoso, foi um achado e espero que mais pessoas possam vê-lo e se emocionar com esta história. É lindo de ver a inocência e a rejeição que aos poucos vai dando lugar ao amor. É um longa de roteiro encorpado e que oscila entre passado e presente nos revelando nuances da história.

"Can" é daqueles filmes que geram sentimentos bons, e ao final consequentemente abrimos um sorriso, é tão lindo ver algo puro, um sentimento ruim se transformando em amor. Veja o quanto muda o semblante de Ayse ao descobrir em Can o amor incondicional e verdadeiro. Ser mãe e pai é um papel muito importante, por isso é preciso pensar antes de gerar ou adotar. E quem dera que todas as crianças fossem como Can...

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