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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Sessão de Terapia - 1ª Temporada

Versão brasileira da série israelense "BeTipul", um fenômeno que atingiu mais de 30 países, muitas adaptações foram feitas ao redor do mundo, algumas descartáveis e outras geniais, a mais conhecida é a versão americana "In Treatment" com Gabriel Byrne. "Sessão de Terapia" dirigida por Selton Mello tem 45 episódios de mais ou menos 25min, seguindo uma linha simples, a cada dia da semana Theo recebe um paciente em seu consultório e a trama se finca nos diálogos entre eles, o cenário é restrito, mas a câmera passeia pelos cantos exibindo detalhes e fazendo closes no rosto e gestuais do terapeuta e dos pacientes. Um dos grandes acertos foram os atores escolhidos, os dramas são bem colocados e crescem à medida que a série avança. Tem um roteiro impecável, uma fotografia minuciosa e atuações envolventes. Como na original "Sessão de Terapia" acompanha o tratamento de quatro pacientes, no quinto dia é a vez de Theo sentar e desabafar, Dora é a sua terapeuta e supervisora da qual ele encontra após muitos anos. Neste momento podemos nos aprofundar na mente dessas pessoas que passam o tempo todo analisando. É uma série densa, complexa e inteligente. É um mergulho surpreendente no universo da terapia.

ZéCarlos Machado como Theo
Theo com mais de 20 anos de experiência é considerado um dos melhores terapeutas. É um homem de meia-idade, casado e pai de três filhos. Seu consultório fica num anexo da sua própria casa. Theo é um homem contido, mas apenas por fora, em seu interior ele lida com vários dilemas pessoais, além de se apegar aos seus pacientes. Ele tenta se controlar e quando está em equilíbrio conduz a terapia de maneira muito eficaz. ZéCarlos Machado comedido ou em seus rompantes está formidável.
Já no início muito cansado, Theo procura Dora a fim de obter conselhos, está impaciente e sente que não está podendo continuar com seus pacientes. De fato é complicado tratar dos outros enquanto seu próprio ser está ruindo. E as coisas vão aos poucos desmoronando, até que chega um ponto que todos os problemas se juntam e alguma decisão precisa ser tomada.

Maria Fernanda Cândido como Júlia
Júlia é uma mulher de 35 anos, independente, sensual e que sempre consegue o que quer, mas ao mesmo tempo é cheia de medos, principalmente quando se trata de relacionamentos. Ela diz estar apaixonada por Theo e à medida que as sessões avançam se torna mais persistente e intensa, o que faz Theo ficar em dúvidas, já que passa por um momento difícil em seu casamento e vê que Júlia está realmente interessada. Ele sabe que é um caso de transferência erótica, mas seu lado carente e masculino vai se sobressaindo. Seu controle perde-se a cada encontro, pois Júlia é muito provocativa.

Sérgio Guizé como Breno
Uma grande revelação é o ator Sérgio Guizé, que encarna um atirador de elite arrogante e desprovido de sentimentos, porém as coisas mudam quando em uma ação ao matar um traficante, sem querer a mesma bala atinge uma criança. Sob recomendação vai até Theo, mas ele diz não sentir culpa nenhuma, já que seu trabalho é executar ordens. Dentro de sua concepção ele é o melhor e é feito de aço. Conforme as sessões evoluem percebemos um outro Breno que ficou incubado por toda sua vida. Theo tem um árduo trabalho, ao mesmo tempo que Breno parece ser amigável, é uma pessoa extremamente fechada, mas aos poucos ele vai contando sobre sua vida, a criação rígida e as dúvidas acerca de seu casamento. Breno não se conhece, ele nunca parou para sentir ou pensar em si mesmo. Com certeza é o drama mais intenso da série.

Bianca Müller como Nina
Nina é uma ginasta de 15 anos, parece ser uma garota bem forte e responsável para sua idade, mas psicologicamente é frágil e solitária, começa a se consultar com Theo depois de um estranho acidente que quase a matou, ela quer que Theo faça uma avaliação para a seguradora que a está investigando, quer que escreva que não há nenhum problema e que também não é uma suicida. Nina é explosiva, sempre está no ataque, além de não ser sociável e brigar muito com sua mãe. Já com seu pai existe um grande laço, ela o vangloria mesmo que não o veja constantemente, a desculpa é que ele é um fotógrafo, um artista. Entre conversas descobrimos os segredos, traumas e muita tristeza.

 André Frateschi e Mariana Lima como João e Ana 
O casal procura Theo por conta de uma gravidez indesejada, João quer o bebê, Ana quer o aborto. Ana é uma executiva bem-sucedida, enquanto João é um ator fracassado. O único motivo que sustenta essa relação é a conexão sexual, mas a partir de algumas sessões as coisas vão mudando e João crê que Ana o diminui, pois ela precisa achar que é a força do relacionamento. Por conta disso, João se tornou um cara estúpido, algo conveniente para a personalidade que Ana criou para si. É um casal com grandes conflitos internos e que estão tomando consciência de suas dificuldades. João é um cara irônico, cheio de piadinhas de mau gosto, o que faz Ana o adorar, quando ele muda e expõe seu lado mais amoroso tudo vai por água abaixo, Ana se desestabiliza e mete os pés pelas mãos.

Selma Egrei como Dora
Dora é uma grande terapeuta e orientadora sênior, seu relacionamento com Theo é conturbado e com uma carga emocional muito grande, mas Theo sabe que Dora é a única que pode lhe ajudar, então depois de muitos anos, ele a procura. Dora aparentemente é o perfil perfeito de profissional, equilibrada, séria e até fria. Não há sequer uma sessão em que os dois não discutam a respeito da maneira que ela conduz as conversas. Mas lá pelas tantas descobrimos uma Dora completamente emotiva, o que ela faz é apenas mascarar seus sentimentos para que os dramas dos pacientes não penetrem em seu ser. Em alguns episódios, Clarice, mulher de Theo, começa a frequentar a terapia junto com ele, o casal passa por uma crise muito séria no casamento, segundo Clarice, ele dá atenção mais para seus pacientes e não a vê como mulher. Ela percebe que se anulou a vida inteira para agradá-lo, pois sempre o admirou. Theo parece ser um homem sem vida no início da série, e é nítida sua mudança, quando Júlia começa a fazer terapia. Dora sente que a situação é tensa, tenta ajudá-lo, mas ele só consegue enxergar do seu jeito.

Theo quase sempre nos faz entender as circunstâncias só pelo seu olhar, ele não pode dizer o que bem entender a seus pacientes, assim como também não pode criar vínculos. Mas, o desfecho de Breno, por exemplo, o desestabilizou completamente, e por isso passou a não acreditar mais nas teorias e em sua competência como profissional.
Interessante é que a série mostra o terapeuta não como um Deus salvador, a realidade é que a sessão é uma troca, por vezes o terapeuta sai ganhando e consegue fazer o paciente evoluir em suas emoções, se descobrir, mas por outras não há teorias e tratamentos que deem certo. E acima de tudo, nada é conclusivo.
Outro ponto válido é que em nenhum momento ela descamba para diálogos de autoajuda, são dramas intensos, Theo dá a seus pacientes a possibilidade deles cavarem lá no fundo trazendo sentimentos e fazendo com que pensem sobre o que lhes fazem mal. A série se apóia não em cenas, mas em fatos contados nas consultas, na terapia que as pessoas fazem com Theo. O roteiro inteligente e a força das interpretações faz dessa série emocionante e reflexiva, focaliza com dinamismo a sessão de terapia. Uma grande série!

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