"Elena" (2012) dirigido por Petra Costa é um documentário que ganhou muitos elogios, teve ótima repercussão e foi bem recebido pelo público. A história é narrada por Petra, irmã de Elena, que tenta resgatá-la por meio de arquivos, fitas cassete, vídeos e cartas, ao longo descobrimos a intensa relação que havia entre as duas, mesmo com a grande diferença de idade.
Elena nasce num período complicado: a ditadura militar, e vive muitos anos na clandestinidade com seus pais. Após treze anos nasce Petra, que sempre incentivada por Elena cantava, dançava e atuava. Era nítida a veia artística de Elena, cuja foi herdada de sua mãe que sonhava em ser atriz de cinema. A necessidade de colocar sua arte para fora aconteceu quando seus pais se separaram, começou a estudar e fazer teatro, mas ela desejava mais e em busca de um grande sonho vai para Nova Iorque. Fez testes, audições e mesmo com todo seu talento para dança, canto e música não obteve respostas. Desolada volta para o Brasil. Toda essa arte que o documentário explora e que existe em Elena a deixa melancólica e frustrada. Ela constantemente dizia: "Se não posso fazer arte, prefiro morrer". Mais tarde, Elena volta para Nova Iorque com sua mãe e irmã, porém nada muda, cada vez mais angustiada por não conseguir realizar seu sonho, se torna dura consigo mesma e a menina que um dia descobriu que podia fazer a lua dançar, se fechou para o mundo. Ela foi sendo tomada por um imenso vazio, uma tristeza que já não podia carregar e mesmo com sua pouca idade, estava desistindo de tudo.
Tanto a mãe, como a irmã não entendia de fato o que ocorria com ela, e de certa forma depois do suicídio a culpa as tomou completamente. Lembranças as perseguiam, como num dia que Petra estava com uma amiga em sua casa mostrando os cômodos e quando chegou no quarto de Elena, a menina perguntou o que ela tinha, pois estava toda coberta com os olhos distantes, e Petra respondeu: "Ela é assim", ou quando a mãe ouviu ela chorar desesperadamente e não foi lá perguntar nada. Conviver com este tipo de sofrimento é angustiante, e se eu fizesse, e se eu tivesse, e se... É um verdadeiro pesadelo que acaba com a vida de qualquer um.
É necessário expor a dor sentida, se possível compartilhá-la, pois é uma maneira de se libertar e seguir em frente. O que Petra fez com este documentário foi exatamente isso, ela compartilhou a sua dor, e principalmente, a transformou. "Elena" é um documentário extremamente lírico e pessoal mas que conversa com nossas dores e saudades. O interessante é que ele nos permite pensar em nossos próprios sonhos não realizados, a insatisfação com a vida, a solidão e o peso que se carrega por causa disso.
Como não se emocionar na parte em que o laudo de Elena aparece na tela mostrando que seu coração pesava 300 gramas?
"Meu coração está tão triste que eu me sinto no direito de não perambular mais por aí com esse corpo que ocupa espaço e esmaga mais o que eu tenho de tão...tão frágil."
Vemos mais tarde um período confuso na vida de Petra, quando decide qual carreira seguir, ela escolhe estudar teatro, assim como Elena, então passa a tentar entender o motivo de sua escolha e entra numa luta interna tentando se desvencilhar da imagem da irmã, que por vezes se confunde com a dela. A doce cena da dança na água reflete o deixar ir. "As dores viram água, e pouco a pouco viram memória."
"Elena" é um filme melancólico e completamente libertador. A frase dita por Petra no final resume lindamente: "Você é a minha memória, feita de pedra e sombra. E é dela que tudo nasce, e dança". Elena deixou de ser dor e tristeza para se tornar inspiração.
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