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terça-feira, 10 de setembro de 2013

A Parede (Die Wand)

"A Parede" (2012) é baseado no livro homônimo da escritora austríaca Marlen Haushofer. O argumentista e realizador austríaco Julian Roman Pölsler filmou a história em Salzkammergut, tendo mantido sempre uma rigorosa proximidade ao texto original. Sendo o livro tanto um conto, um romance de emancipação ou uma crítica civilizacional, parece ser também de uma grande atualidade no que se diz respeito às questões sobre o comportamento humano em relação à natureza e a si próprio.
Uma mulher (Martina Gedeck) faz um passeio com um casal até uma cabana de caça nas montanhas. Pela noite, os amigos vão visitar o bar situado numa aldeia do vale, mas a mulher fica em casa com o cão. Na manhã seguinte, o casal ainda não chegou em casa e a mulher põe-se a caminho da aldeia, se deparando com algo inimaginável. Existe uma parede invisível que a separa do resto do mundo e atrás da qual parece não existir vida. Agora a mulher é obrigada a sobreviver na floresta, sozinha com um cão, um gato e uma vaca. Escreve os seus pensamentos, preocupações e necessidades num caderno, que talvez ninguém voltará a ler.
"A Parede" é um filme que explora o lado existencialista e não da sobrevivência. Inicialmente vemos a mulher e um casal de amigos mais velhos a caminho de um lugar lindo rodeado por montanhas, mas ela acaba ficando sozinha, pois eles resolveram ir ao vilarejo mais próximo, o cachorro Luchs por algum motivo decide ficar junto da mulher. No dia seguinte, dada a ausência dos amigos ela dá uma volta para tentar encontrá-los, porém um inimaginável obstáculo aparece, uma parede invisível a impede de passar. Ela apalpa não acreditando nesta possibilidade, o desespero em sua fisionomia vai aos poucos assumindo tons de agonia, ela olha, para, senta, pensa e sente a parede. Abismada volta para trás e ao regressar se depara com uma casa em meio as árvores com dois velhinhos, mas há uma parede impedindo sua passagem e não sendo o suficiente as pessoas estão paralisadas como se o tempo tivesse parado. Ela não compreende o que está acontecendo, então explora todas as alternativas de sair do local, cuja natureza é exuberante.
Demora alguns dias para que a mulher entenda que não há o que fazer. Sua vida agora é se preocupar com a alimentação e a solidão que cada vez mais a rodeia. Tudo muda realmente quando aparece uma vaca prenha, um ser vivo lhe dá a esperança e um certo aconchego. Logo também chega uma gatinha também grávida. Esses animais, principalmente o cachorro são a energia que a move, ela passa os dias ocupada trabalhando, tirando leite, plantando e caçando, essa atividade em especial é a mais árdua, ela entende que é necessário, mas se sente muito mal.

Pouco a pouco a integração com a natureza acontece, começa a entender os ciclos e como tudo funciona, não mais se preocupa com calendário, mas apenas com as estações do ano e como passar por elas da melhor maneira. Reconhece em Luchs um verdadeiro companheiro, sabe o que cada gesto ou olhar significa, ela não é capaz de sentir tristeza perto dele. Interessante é que em nenhum momento os animais são humanizados, eles são o que são e a mulher se adapta a eles, capta os seus sinais e a forma que sobrevivem. A convivência com Luchs a fez compreender que o cachorro é o animal mais dependente do homem, sua domesticação o fez ter sentimentos parecidos com os nossos. Outra parte curiosa é quando a gatinha é morta por uma raposa, a mulher sabe que esta gatinha é frágil e nasceu no lugar errado e sabe que a raposa agiu conforme seus instintos, não foi violência. Seria violência se ela, um animal racional, matasse esta raposa por um sentimento egoísta. A protagonista cresce a cada cena, ganha proporções existenciais, não há falas, somente seus relatos dos quais escreve em papéis soltos.

"Eu ficaria mais tranquila com alguma forma de loucura do que com a terrível coisa invisível."

Uma das cenas mais lindas é quando ela relata sobre um corvo branco. Mesmo sendo diferente dos outros corvos ele voa junto, porém não muito próximo. Enquanto todos pousam na mesma árvore, ele pousa em outra, sabe que faz parte daquela espécie, mas não é aceito por ser diferente. A mulher pensa: quem sabe no meio da floresta encontre um corvo igual a ele e não prossiga mais só, mas corvos brancos são raros e a chance de encontrar é mínima. Isto simboliza a necessidade do ser humano de se relacionar, a busca pelo seu igual, a sensação de preenchimento e ser aceito pelo que se é verdadeiramente. Há diversas cenas grandiosas, mas destaco as que a mulher juntamente com o cachorro deita sobre a grama e sente o toque suave da natureza, o sopro da brisa lhe acariciando o rosto, o sol reenergizando seu corpo. É a imensidão tomando conta, são sensações através de sensações. É o silêncio que fala.

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