"Há Tanto Tempo que Te Amo" (2008) do diretor Philippe Claudel mostra uma profunda reflexão sobre a dor e a ausência. Juliette retorna a sua família e à sociedade após 15 anos presa. Apesar de uma separação familiar drástica no passado, sua irmã mais nova, Léa, decide abrigá-la em sua casa, onde mora com o marido, as duas filhas e o sogro. Aos poucos, a trama revela a aparente amoralidade por trás da tragédia que manteve Juliette afastada por tanto tempo da vida real.
Kristin Scott Thomas interpreta Juliette e mesmo despida de qualquer vaidade continua bela, seu semblante sempre fechado, distante de tudo e todos nos intriga ao querer saber o que de fato aconteceu para que passasse tanto tempo na prisão. Acompanhamos a chegada de Juliette à casa da irmã, da qual a recebe com carinho, junto de suas filhinhas adotadas, seu marido que reluta em tê-la dentro de sua casa, e seu sogro que já não pode mais falar. O crime cometido é repugnante a qualquer um, não demora para que saibamos que Juliette matou seu filho de 13 anos. Apenas algumas pessoas sabem sobre isso, os amigos novos nem sabem que Léa tem uma irmã. Mesmo com o afastamento das duas durante todo esse tempo e a lavagem cerebral que os pais fizeram para que esquecesse Juliette, Léa nunca deixou de amá-la. Juliette nem toca no assunto, está blindada e completamente distante por conta de toda a rejeição que sofreu em tantos anos.
Interessante a cena em que Léa, professora de literatura, discute com os alunos sobre "Crime e Castigo", de Dostoiévski, como a maioria sabe, o personagem Raskólnikov mata uma velhinha a machadadas com a intenção de usar o dinheiro dela para causas nobres, é a tal teoria de que se há uma utilidade, não há mal nenhum em cometer um crime, mas com o passar do tempo Raskólnikov se sente angustiado pelo crime e fica tentado a confessar a fim de expiar seus pecados. A situação de Juliette é parecida e é por isso que sua irmã se exalta tanto nesta discussão com os seus alunos, essa é uma cena chave para entender a personagem Juliette.
A reintegração na sociedade e ter que recomeçar, arranjar emprego, conviver com as pessoas, tudo o que a vida normal exige é difícil, o que mais a incomoda é a distância que toma das pessoas, aos poucos ela tenta, mas não por demonstrar afeto aos demais, isso acaba por se tornar um grande problema. O personagem Fauré sente na pele toda a ausência que emana dela.
Léa tem um papel fundamental na reintegração da irmã, ela é que vai conseguir puxá-la para o presente, para o recomeço e a vontade de sentir-se viva novamente.
O drama dirigido por Claudel é tão bem construído que vai nos dando aos poucos a situação, fazendo com que entendamos sem a necessidade de julgar Juliette. É fato que personagens com olhares dispersos e de poucas palavras nos chamam a atenção, o mistério que há por trás intriga, Kristin Scott Thomas foi perfeita, ela transmite de maneira impecável as emoções sem cair em melodramas.
"Há Tanto Tempo que Te Amo" é feito de sentimentos que nos acometem, situações que acontecem, nem sempre é fácil lidar com que a vida nos dá, às vezes tomamos decisões egoístas e temos que arcar com as consequências, e por conta disso nos tornamos pessoas duras e difíceis de se relacionar, mas precisamos olhar para quem está perto de nós, para quem, que apesar de tudo ainda continua nos amando independente de qualquer coisa. A frase final: "Eu Estou Aqui" é tão forte e cheia de significados que é capaz de mudar o rumo em que tudo está, é acalentador saber que existe alguém que está de corpo e alma ali, presente.
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