Vitus é um garoto superdotado que parece vindo de outro planeta. Ele tem o ouvido muito apurado, toca piano como um virtuoso e estuda enciclopédias desde os cinco anos de idade. Seus pais antecipam um futuro brilhante para ele. Esperam que ele se torne um exímio pianista. Mas o pequeno gênio prefere brincar com seu excêntrico avô na oficina dele, construindo planadores. Ao fazer um voo numa das engenhocas, um dramático salto dará a Vitus o controle da própria vida.
Aos seis anos, ele já carrega enormes responsabilidades, como as exaustivas horas de prática diária, a tentativa de adequação, a exigência da mãe obsessiva (Julika Jenkins) e a ausência do pai workaholic (Urs Jucker). Seu único alívio são os fins de semana ao lado do avô (Bruno Ganz), homem simples que partilha com o neto a paixão pela aviação e o único que o trata como uma pessoa normal. Vitus é interpretado por dois atores mirins: Fabrizio Borsani, que o faz aos seis anos, e Teo Gheorghiu, que o vive já com 12 anos de idade. O primeiro é curioso e adorável, o segundo, assombroso em talento e interpretação, especialmente ao piano, já que ele é uma criança prodígio de verdade e foi selecionado para o papel entre alunos de uma famosa escola londrina de música.
O filme de Fredi M. Murer tem vários ingredientes interessantes, protagonista criança, um avô amoroso, os sonhos, o egoísmo dos pais, a crise de identidade do garoto que após a queda com o planador do avô decide fingir não saber mais tocar piano, e assim viver como um pré-adolescente normal. Depois da metade do filme o clima ganha uma certa fantasia infantil e a genialidade do menino é tratada de forma exagerada, ao mexer na bolsa de valores e fazer com que seu avô ganhe uma fortuna, e conseguir que seu pai se reerga na empresa, as dissertações sobre a bolsa de valores são incríveis. O garoto tem seu próprio apartamento, onde pode tocar piano sossegadamente, também tenta conquistar uma moça sete anos mais velha, que coincidentemente foi sua babá quando mais novo. Há toques de humor nessa fase, principalmente quando seu avô decide comprar um avião e se aventurar nele.
O filme levanta diversas questões, como educar uma criança, respeitar seus limites, deixá-las que descubram do que gostam realmente, claro sempre incentivando, como no caso de Vitus, o piano. A mãe ficou muito orgulhosa o vendo ainda criança tocar como gente grande e acabou colocando expectativas demais, cansado Vitus esquece de ser uma criança. Com ótimas passagens ele questiona os professores e diz que é normal que saibam mais que seus alunos, e pergunta quem inventou a máquina a vapor, a professora lhe responde, e então Vitus acrescenta: "Se você é tão capaz porque não inventou a máquina você mesma?".
Interessante também a parte em que a mãe de Vitus o leva na casa de uma grande e respeitada pianista e ele se recusa a tocar e mostrar seu talento, quanta ousadia! Mas a mulher de certa forma o entende, pois os gênios são assim, imprevisíveis.
É um filme emocionante e alegre que nos tira sorrisos pela trama inocente. Toda vez que seus dedos encontram as teclas do piano, inevitavelmente ficamos estupefatos.
Vitus em um determinado momento sente-se estranho, seu desejo é fazer parte e se tornar apenas mais um na multidão, não é fácil entender-se nesta fase, o que realmente importa, o que sente e deseja. Nas aulas o tédio invade, pois tudo o que o professor fala ele já sabe, responde as perguntas de pronta e os questiona de maneira incisiva. No início quando pequeno é especialmente encantador. Que mãe não se sentiria orgulhosa? É compreensível as atitudes apesar de nos irritar com suas exigências. Uma criança superdotada não precisa deixar de ser criança e é isso que o filme mostra. Há clichês, fantasias, mas faz parte do contexto e nos maravilha a cada cena, principalmente ao final, onde Vitus toca juntamente com a orquestra, que inclusive foi gravada durante um concerto de verdade. É de tirar o fôlego!
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