O fotógrafo Mahmut (Muzaffer Ozdemir) recebe em sua casa o primo Yusuf (Mehmet Emin Toprak), que vai tentar uma oportunidade de emprego na capital Istambul, pois a fábrica onde trabalhava em sua cidade natal acabou fechando. Seu sonho é tornar-se marinheiro e conhecer o mundo inteiro, mas ele vai se deparando com barreiras cada vez maiores, e o sonho interiorano vai ficando pra trás e sua presença torna-se um fardo para o primo, que é uma pessoa que se habituou a solidão e as suas manias.
Nuri Bilge Ceylan (Sono de Inverno - 2014) é um diretor fantástico, ele coloca o silêncio, a fotografia melancólica e pesada para evidenciar os sentimentos dos personagens. Dois homens vivendo num apartamento, se estranhando, um querendo sua vida novamente para voltar a monotonia da solidão e o outro se sentindo um estorvo, mas sem poder fazer algo para mudar isso. Os sonhos quebrados de Yusuf incomodam Mahmut numa camada mais profunda. Despertam nele a memória de projetos há muito abandonados. Anos atrás, o fotógrafo sonhava em fazer filmes como o russo Andrei Tarkovsky. Numa noite, Mahmut coloca no vídeo justamente uma obra do mestre russo, "Stalker", cujo ritmo lento tem o poder de afugentar rapidamente da sala o primo camponês. Na sequência, o dono da casa o substitui por uma fita erótica. Mahmut já não se sintoniza mais com a sua antiga sensibilidade e sente fundo a perda desses sonhos, e também da mulher (Zuhal Gencer erkaya) que o trocou por outro, depois de um divórcio complicado por um aborto no meio do caminho. São motivos demais para arrependimentos e amarguras que o filme desenrola de maneira sutil.
O inverno de Istambul parece dificultar mais ainda a aproximação com as pessoas. A neve cobre as árvores, os edifícios, os carros, os bancos da praça. A escolha em ambientar o filme nessa estação do ano não é aleatória. O clima gelado funciona como correlativo dos estados da alma dos protagonistas. Mesmo ao demonstrar simpatia e boa vontade, Yusuf esbarra na intolerância e introspecção de Mahmut. Ele passa os dias meditativo, ou sentado sozinho num café. Em casa implica com os pequenos desleixos do primo provinciano. Irrita-se com o cheiro de seus sapatos, de seu cigarro e até com suas demonstrações de afeto, e Yusuf continua sua empreitada em busca de trabalho para socorrer a família que passa por dificuldades financeiras.
Mahmut não tem nenhum resquício de sentimento, sua mãe está doente e ele a acompanha no hospital apenas por obrigação, sua ex-mulher, talvez o único elo afetivo, vai embora de Istambul, ou seja, esse homem é completamente vazio e amargurado, não há nada dentro de si que possa compartilhar com outros, portanto, é compreensível o tratamento que dá a seu primo, a única coisa que ele pode compartilhar é o vazio. Yusuf aos poucos perde sua esperança, em vários momentos o observamos pensativo, contemplando o horizonte gelado. Ele percebe que ali não há nada para ele. E o que sobra a Mahmut é a solidão que lhe é conveniente e o silêncio, este que faz do cinema de Ceylan algo grandioso, que fala mais do que qualquer diálogo, e a fotografia trabalha com esse silêncio, ela reflete sentimentos introspectivos, dando a entender o que o personagem sente.
Quando viver e se relacionar com os outros se torna pesado e a solidão é a única companhia que lhe faz bem, sentimentos que dilaceram por dentro, incomodar-se com o sonho do outro, não querer nada além do nada que tem. O filme traz essas questões e inevitavelmente nos leva a reflexão. O cinema turco sempre traz experiências e sensações significativas, é um grande deleite aos cinéfilos.
O inverno de Istambul parece dificultar mais ainda a aproximação com as pessoas. A neve cobre as árvores, os edifícios, os carros, os bancos da praça. A escolha em ambientar o filme nessa estação do ano não é aleatória. O clima gelado funciona como correlativo dos estados da alma dos protagonistas. Mesmo ao demonstrar simpatia e boa vontade, Yusuf esbarra na intolerância e introspecção de Mahmut. Ele passa os dias meditativo, ou sentado sozinho num café. Em casa implica com os pequenos desleixos do primo provinciano. Irrita-se com o cheiro de seus sapatos, de seu cigarro e até com suas demonstrações de afeto, e Yusuf continua sua empreitada em busca de trabalho para socorrer a família que passa por dificuldades financeiras.
Mahmut não tem nenhum resquício de sentimento, sua mãe está doente e ele a acompanha no hospital apenas por obrigação, sua ex-mulher, talvez o único elo afetivo, vai embora de Istambul, ou seja, esse homem é completamente vazio e amargurado, não há nada dentro de si que possa compartilhar com outros, portanto, é compreensível o tratamento que dá a seu primo, a única coisa que ele pode compartilhar é o vazio. Yusuf aos poucos perde sua esperança, em vários momentos o observamos pensativo, contemplando o horizonte gelado. Ele percebe que ali não há nada para ele. E o que sobra a Mahmut é a solidão que lhe é conveniente e o silêncio, este que faz do cinema de Ceylan algo grandioso, que fala mais do que qualquer diálogo, e a fotografia trabalha com esse silêncio, ela reflete sentimentos introspectivos, dando a entender o que o personagem sente.
Quando viver e se relacionar com os outros se torna pesado e a solidão é a única companhia que lhe faz bem, sentimentos que dilaceram por dentro, incomodar-se com o sonho do outro, não querer nada além do nada que tem. O filme traz essas questões e inevitavelmente nos leva a reflexão. O cinema turco sempre traz experiências e sensações significativas, é um grande deleite aos cinéfilos.
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