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segunda-feira, 18 de março de 2013

Pink Floyd - The Wall (1982)

Pink Floyd emana diferentes sensações, como liberdade interior, uma espécie de asas internas, calmaria e euforia junto. "The Wall" (1982), foi sucesso de bilheteria, assim como o disco que é considerado o álbum duplo mais vendido da história. É uma obra que saiu da mente criativa de três pessoas: Roger Waters (roteiro, música), Alan Parker (direção) e Gerald Scarf (animações). A história criada pelo então líder do Pink Floyd, trata-se em parte de uma semi auto-biografia, mesclando acontecimentos que fizeram parte da vida do compositor com eventos fictícios. O filme abre com a imagem do corredor de um hotel, aonde Pink, vivido pelo cantor irlandês Bob Geldof, está hospedado, então entramos nas memórias de Pink, indo direto as suas origens, ao seu passado. Vemos um soldado preparando sua arma antes de ir ao campo de batalha. Trata-se do pai de Pink. Aqui entra em evidência um dos fatos mais importantes na vida de Roger Waters, a perda de seu pai na II Guerra Mundial. Este acontecimento, de grande influência em sua formação, refletiu em parte de sua obra, através de críticas ao belicismo.
Toda a história se desenvolve em um devaneio de Pink, sentado em seu quarto, olhando fixamente para a porta. Sonho esse formado por lembranças de sua vida. O filme não tem falas, é todo envolvido pelas músicas do álbum e há sequências de imagens animadas, que metaforicamente explica os sentimentos de Pink. O começo de tudo é a guerra, onde vemos a perda de seu pai, isto o marcará pelo resto da vida, vemos uma cena em que ele sente a falta do pai e vê em um homem no parque a figura paterna que lhe falta, mas após ser rejeitado por este homem, percebe estar sozinho e apenas olha as outras crianças acompanhadas por seus pais. Nesta fase as músicas "In the Flesh", "Good Bye Blue Sky", "When the Tigers Broke Free" são as que introduzem o tema guerra na vida do garoto. Então o primeiro tijolo foi colocado no muro que em breve se erguerá, e segue a canção "Another Brick in the Wall - Part I".

"The Happiest Days of Our Lives" insere o tema educação, Roger Waters define a educação como alienação, logo na infância as crianças perdem a identidade fazendo o que os outros querem que façam, logo essas mesmas crianças destroem e colocam fogo na escola, e cantam "Another Brick in the Wall - Part II" sob forma de revolta contra a educação. E mais um tijolo vai para o muro. Também vemos o relacionamento com sua mãe superprotetora e uma dependência extrema deste garoto a ela. A música "Mother" acompanha esta fase. Depois vem a traição de sua mulher, pois ele demonstra desinteresse perante a ela, embalado pela música "Empty Spaces", a imagem animada de duas flores brigando representando o feminino e o masculino, indica que no início a paixão é o fator dominante em uma relação, mas que com o passar do tempo um acaba engolindo o outro. Pink vê a chance de descontar a traição em uma daquelas mocinhas que fazem de tudo para ficar com o ídolo, atraído pela garota sexy a leva para seu quarto de hotel, mas termina explodindo toda a sua raiva quebrando tudo em cima dela. E então, Pink dá adeus ao mundo real, em "Good Bye Cruel World", e começa a viver no mundo que ele construiu. Nesse momento a história se desenrola em duas linhas: o mundo real e o mundo dentro de seu muro psicológico. Enquanto, na vida real, Pink acaba com todos os pelos de seu corpo, inclusive as sobrancelhas, em seu mundo dentro do muro ele viaja, e nessa parte as músicas "Is There Anybody Out There", "Nobody Home" e "Vera" acompanham. Essa viagem seria como um momento de reflexão, onde ele analisa os motivos que deram origem a cada tijolo. Pink acaba encontrando o pai morto em uma vala e a si próprio na idade adulta.

Depois durante um show, Pink expõe todo seu desdém pela platéia através de ataques a minorias discriminadas (reflete o período em que Waters estava bem chateado com o público), mas esse episódio serve como crítica à ideologias de extrema direita, melhor exemplificadas pelo fascismo e pelo nazismo. Os dois martelos cruzados, representa o desejo de se derrubar o muro, ou seja, se libertar das angústias e viver normalmente.
Em "Stop", Pink cansa de lutar. O muro é mais forte, a batalha não é nada fácil. Em seu devaneio, Pink é preso por ser "nazista". Na vida real, um guarda encontra Pink cansado no show sentado ao lado do sanitário. A vida toda ele construiu um muro para se isolar de uma sociedade da qual ele julgava não fazer parte, por ser e pensar diferente, mas conforme se isolava, isso o deixava cada vez mais pirado se questionando sobre este muro que com o tempo construiu. Derrubá-lo significaria sair pro mundo e enfrentá-lo. Na sequência final, toda em animação, Pink é julgado por ter optado pelo isolamento e todas as pessoas com quem se relacionou durante a vida são chamadas a depôr. Esposa e professor o consideraram culpado, enquanto a mãe continuava com seu comportamento superprotetor.
A canção "Outside the Wall" retrata as pessoas que estão do lado de fora do muro, e que amam a pessoa que está do lado de dentro isolada, mas não são vistas por esta. Ao final quando o muro é derrubado vemos crianças recolhendo os tijolos, limpando a sujeira.

"The Wall" é uma viagem exclusiva à mente de Roger Waters. É um deleite para os fãs que saboreiam imagens surreais, acompanhadas de pensamentos e sentimentos. E um deles é: "Somos apenas mais um tijolo no muro."
Diante a este pensamento tento todos os dias destruir um pouco do muro que andei construindo com o tempo, por não me aceitarem, por ter vergonha de certas coisas, por pensar diferente, etc. Hoje tenho a certeza que não quero ser apenas mais um tijolo desse muro. Viver de acordo com as regras impostas e seguir cegamente um sistema ridículo que nos move, ceder as influências capitalistas, de ideologias baratas e mentiras sensacionalistas, isso faz de nós apenas mais um entre tantos, temos que viver conforme nosso instinto, não desmerecendo o que somos para agradar o meio em que vivemos. A solução não é construir um muro para separar os mundos (interno e real), mas sim questionar para não ser mais um tijolo deste muro.
"The Wall" é uma obra conceitual, interpretativa, criativa e uma experiência extasiante.

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