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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Whisky

"Whisky" (2004) nos faz lembrar que é preciso olhar com mais carinho para o cinema latino, sabemos que a Argentina tem se destacado com muito vigor e inteligência abrangendo um grande público, o Chile também tem nos presenteado com maravilhas, assim como Colômbia, Peru e Uruguai, que apesar de produzir pouco sabe fazer cinema de qualidade, simples mas eficaz.
"Whisky" é um filme monótono, repetitivo, de sorriso amarelo igual aos dos retratos que colocamos em cima dos móveis, para que quem os veja perceba que ali moram pessoas "felizes". Os personagens são pessoas comuns completamente vazias por circunstâncias da vida e de qualquer forma não querem mudar sua rotina, preferem continuar numa repetição diária e sem graça. Dirigido pela dupla Pablo Stoll e Juan Pablo Rebella (este suicidou-se em 2006), é um filme que fala sobre solidão com boas doses de um bom humor amargo.
Em Montevidéu vive Jacobo (Andres Pazos), um homem de 60 anos que vive sozinho desde a morte de sua mãe. Desde então sua única alegria na vida é a pequena fábrica de meias que possui. Marta (Mirella Pascual) é uma mulher de 48 anos que é o braço direito de Jacobo na fábrica, onde trabalha como supervisora. Marta e Jacobo possuem uma espécie de dependência mútua, apesar dos assuntos entre eles sempre ficarem em torno do trabalho. Até que um dia Herman (Jorge Bolani), o irmão de Jacobo, avisa que irá a Montevidéu para participar da matzeiva, uma celebração judaica para a colocação da pedra do túmulo em até um ano após a morte de uma pessoa. Herman não vai a Montevidéu há mais de 20 anos, tendo faltado até mesmo no funeral de sua mãe, sendo que também tem uma pequena fábrica de meias, localizada no Brasil.
A visita de Herman desperta em Jacobo a velha competição existente entre os irmãos, desse modo ele faz uma proposta a Marta: que ela seja sua esposa durante a visita de Herman. Marta aceita a proposta. Ela passa então a morar no apartamento de Jacobo, onde ambos passam a se dedicar em enganar Herman durante sua estadia. Marta trabalha para Jacobo na fábrica de meias, de certo modo ele depende dela para que as coisas sigam seu rumo diário, depois da notícia da vinda do irmão de Jacobo, este resolve fazer a proposta para que ela fique em sua casa por uns dias, ela muito prestativa aceita, talvez por realmente gostar do patrão, ou simplesmente porque não tem mais nada na vida para se ocupar. Com a chegada de Herman ela se transforma, vemos em seus olhos um fio de esperança, no passeio que os três fazem a um hotel percebemos o quanto de vida há naquela mulher. Jacobo por sua vez não dá o braço a torcer, seus olhares de soslaio para Marta indicam que ele se importa, mas não é capaz de mudar o que há tanto tempo se solidificou.

Herman é o típico judeu que pensa em trabalhar, trabalhar e ganhar dinheiro, é mais alegre que o irmão, construiu uma família de verdade, expandiu os negócios, mas ao final descobrimos que não é tão feliz, pois não consegue aproveitar os benefícios de suas longas horas de trabalho. Quando Herman vai embora, Jacobo volta para sua rotina, Marta arruma suas coisas e vai embora com um grande vazio e desesperança, um choro amargo a invade, como se a vida fosse um fardo. O filme fala pelas entrelinhas, mas sabemos exatamente o desfecho de cada um deles.
"Whisky" conquistou vários prêmios internacionais, entre os quais se destaca o prêmio da crítica da mostra "Um Certo Olhar" do Festival de Cannes de 2004. Neste mesmo ano, o filme foi uma das sensações do Festival de Gramado, ganhando os kikitos de melhor filme latino, melhor atriz (Mirella Pascual) e prêmio do júri popular.
"Whisky" é a palavra que um dos personagens do filme, um fotógrafo, pede para as pessoas dizerem, para que se apresentem sorrindo nas fotos, ou seja, uma falsa ilusão.

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