"A Professora de Piano" (2001) é um filme sobre sexo, perversão, violência física e psíquica. Uma mulher repleta de contrastes que na sua vida cotidiana mostra ser de temperamento reto, rígido e que quando o seu mais profundo íntimo é provocado, ela se revela uma pessoa doentia. É um eterno estudo para os psicólogos e psicanalistas.
Erika (Isabelle Huppert) é uma professora de piano de um prestigioso conservatório, arrogante e boçal, trata os alunos com duras e insensíveis críticas, sua vida pessoal não destoa da profissional. Solteira, ela mora com a mãe que a trata como uma adolescente. Seu desequilíbrio deságua no sexo e é canalizado para as perversões. Nas horas vagas assiste filmes pornôs em cabines, cheira os lenços onde homens momentos antes se limparam, corta sua genitália com lâminas para sentir dor, caminha pelos estacionamentos a fim de ver se encontra algum casal transando somente para observá-los. Quando conhece Walter (Benoît Magimel) o novo aluno de piano, um talentoso rapaz que chama a sua atenção, ela nos mostra sua personalidade um tanto quanto estranha. Walter passa a nutrir por Erika sentimentos carnais e românticos. Ela o deixa completamente fora de si, pois alterna seu estado de dominadora e passiva em minutos, não sabe dizer exatamente o que quer, mas o deseja de forma voraz.
A cena da qual ele lê a carta que ela lhe escreveu citando como quer ser tratada na cama, o deixa perturbado, e de início causa repulsa, mas ao longo do tempo, ele se vê envolvido na loucura dessa mulher. O filme se concentra também no relacionamento entre Erika e sua mãe, que vivem em pé de guerra por causa das atitudes uma da outra. Os diálogos entre elas e a maneira que convivem é de fato muito estranho, Erika com seus 40 anos ainda dá satisfações, e não sabemos se ela sofre por isso, ou sente algum tipo de amor por sua mãe. Um dos pensamentos que Erika segue é a de que nenhum aluno jamais ultrapasse sua genialidade de tocar piano, Schubert, principalmente, a sua grande obsessão.
Michael Haneke é especialista nesses temas que perturbam o espectador, é cruel e sempre violento, não conseguimos nutrir simpatia pelos personagens. É uma experiência difícil e não recomendada à qualquer pessoa. A essência humana assusta, o íntimo quando exposto de maneira irracional, as necessidades, os exageros, e o como somos frágeis quando lidamos com os outros e até com nós mesmos. Partindo de um romance de Elfriede Jelinek, Haneke acerta ao escolher um ambiente assim, aparentemente culto e refinado, Erika é a verdadeira falsa moralista, por trás do discurso puritano e culto, há um imaginário composto por sentimentos completamente sórdidos.
O filme é composto por músicas eruditas maravilhosas, e como na música clássica em que as notas oscilam da mais suave à exaltação dos sentimentos, assim também é Erika, uma pessoa aparentemente controlada, mas que carrega em si uma imensidão de sentimentos reprimidos que quando expostos causam dor e sofrimento, por isso a autopunição, a dor física que se assemelha ao prazer. Os dois extremos que se chocam e viram uma coisa só, dor e prazer sendo iguais.
"A Professora de Piano" é desconfortante, pois os valores morais caem e aparece o mais ridículo do ser humano, o quanto somos complicados e difíceis de se satisfazer. E que quando isso acontece não nos importamos com o que causamos para os demais e a si próprios. Como disse no início é um longa do qual deve ser analisado pelo aspecto psicológico, e as pessoas que trabalham nesse ramo deveriam assisti-lo e estudá-lo. Isabelle Huppert faz de sua personagem uma incógnita, totalmente inexpressiva, não sabemos o que sentir por aquela pessoa, talvez pena, repulsa, raiva, ou simplesmente nada. O longa é um mergulho no mais profundo e sombrio da alma humana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
SE FOR COMENTAR, LEIA ANTES!
NÃO ACEITO APENAS DIVULGAÇÃO.