François Truffaut é um diretor venerado e reconhecido como um dos maiores gênios, transgressor, poético e que sempre destaca as ânsias humanas. Baseado no aclamado livro homônimo de Ray Bradbury, a atmosfera pessimista da obra nos remete a um futuro distópico, onde bombeiros não mais apagam incêndios, e sim, ateiam fogo naqueles que são considerados os principais causadores da infelicidade humana: os livros, independente de sua natureza, tanto romances e biografias, quanto obras filosóficas ou sociológicas serão devidamente queimadas, num ardor de 451º na escala fahrenheit.
Montag (Oskar Werner), o nosso protagonista em meio a tudo isso, começa a se questionar se os livros são realmente os precursores da alienação e a infelicidade das pessoas quando conhece Clarisse (Julie Christie), uma professora de primário, que faz perguntas sobre sua profissão e o faz refletir sobre ela, apresentando-lhe também a possibilidade de ler escondido os livros com os quais entra em contato através do seu serviço. A partir disso, Montag fica curioso para saber o conteúdo dos livros e passa a roubá-los das casas em que vai apreendê-los.
"Fahrenheit 451" é uma crítica contundente sobre o totalitarismo, a ausência do prazer, e alienação social, que é representada pela TV, que suga as pessoas deixando-as sem vontade de questionar ou obter conhecimento. O filme é futurista, portanto, os objetos na casa de Montag é muito interessante de observar, como a TV, igual a que temos hoje, super fina grudada na parede, mas há também outras coisas como o telefone, enfim, vale a pena se atentar a estes detalhes. Outro aspecto bem definido é o humor que o filme traz, como quando Montag diz que o cheiro de querosene que emana de seu corpo é como um perfume, ou quando ele relata um método especial na queima dos livros: segunda é dia de queimar Miller, terça Tolstói, sexta Faulkner, e assim por diante. Graças a curiosidade Montag teve a oportunidade de conhecer o que existia nos livros, e foi em David Copperfield, de Dickens que seu destino muda de maneira irreversível.
Veja só como as coisas não mudam, o filme é de 1966, e ainda lidamos com a alienação que a mídia produz sobre as pessoas, há muitos jovens lendo, mas a maioria dos livros lidos são uma espécie de ilusão, fantasia, histórias sem conteúdo que não faz pensar. Aí fica a pergunta: Que herança literária os jovens do futuro terão? No filme fica claro que os livros são proibidos porque eles de certa forma abrem nossa mente, produzem a vontade de querer o conhecimento.
O final é maravilhoso, é mostrado que podem roubar tudo de nós, menos o conhecimento que adquirimos, cada um dos personagens tinha um livro em sua cabeça decorado a fim de passar adiante, então eles liam rapidamente, decoravam, e quando os bombeiros achavam os livros e os queimavam, tinham tudo em suas cabeças, parágrafos por parágrafos, ninguém poderia queimar ideias e pensamentos. A ânsia do saber, seja ela qual for não pode morrer, ainda mais nessa sociedade atual da qual fazemos parte. Ver este filme faz pensar na democracia que vivemos e em como ela é velada. Sem dúvida, "Fahrenheit 451" é um filme atemporal, e por isso imprescindível!
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