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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Terra Firme (Terraferma)

"Terra Firme" é uma espécie de alegoria sobre a política italiana em relação à entrada de refugiados no país, cada vez mais restritiva. É ambientado em uma ilha fictícia, onde os códigos que regem a vida dos pescadores da região, principalmente aquele que diz que nunca se deve abandonar alguém no mar, chocam-se com as novas leis impostas pelo governo do continente. Na história, as convicções de uma modesta família de pescadores da Sicília é posta em xeque quando uma leva de imigrantes africanos começa a surgir na praia. A trama, dirigida por Emanuele Crialese é narrada sob o ponto de vista do filho de um dos pescadores. Nino (Giuseppe Fiorello), um jovem alienado das trepidações políticas e sociais de seu país, que costuma acompanhar o avô, (Mimmo Cuticchio) em seu trabalho no mar. Em uma dessas pescarias, o patriarca recolhe alguns náufragos de uma embarcação em perigo, contrariando as ordens da guarda costeira. Entre eles está uma mulher grávida e seu filho pequeno. Além de lhe custar o barco, único ganha-pão, apreendido pela polícia, o ato de humanidade do ancião provoca reações contraditórias dentro da própria família. Complexo, o roteiro de "Terra Firme" estende a questão para fora do núcleo protagonista numa tentativa de explorar os diversos pontos de vista dos italianos sobre a problemática: parte dos habitantes, particularmente os da gerações mais novas, temem que a invasão de refugiados possa atrapalhar os planos daqueles que querem fazer do lugar um destino turístico. A ilha parece funcionar como um microcosmo de uma versão paralela da Itália, que parece não saber lidar com o seu próprio passado.
Os refugiados africanos fazem uma verdadeira jornada até chegar a Itália, onde impera uma lei governamental que proíbe que as pessoas os ajudem, então quando os pescadores vão ao mar e se deparam com eles, simplesmente fingem não vê-los e voltam para trás, deixando-os no mar com o perigo de se afogarem, ou ligam para a polícia que os mandam de volta de onde vieram. Só que muitos pescadores carregam códigos de éticas em que jamais em hipótese alguma se abandona alguém no mar, isso é contra as leis do ser humano. Em um diálogo belíssimo acompanhamos os pensamentos daqueles homens, cuja vida é tão simples, nos fazem pensar o quanto as leis que imperam são repulsivas. Enquanto isso os turistas se esbaldam nos passeios ao fundo do mar, só que correm enorme risco de se depararem com muito mais do que apenas peixes.
"Terra Firme" é um misto muito interessante, tem os nativos, os refugiados e os turistas num cenário de solidariedade e indiferença. Com uma fotografia de encher os olhos e um roteiro sutil, o filme surge com um assunto do qual é muito discutido: a xenofobia.

Todos têm direito a vida e de um lugar para viver. A terra deveria ser compartilhada, deveríamos acolher quem sai de seu país para viver no nosso? A lei da simplicidade deveria reger o mundo, causaria menos danos, pois certas leis existem só para complicar ao invés de ajudar.
O diretor Emanuele Crialese decidiu fazer o filme depois de ler a história de uma africana que foi um dos cinco sobreviventes em um barco lotado que passou 21 dias à deriva no mar sem ajuda antes de chegar a Lampedusa. O diretor disse: "Para mim, a resposta do Estado é totalmente inadequada. Deixar as pessoas morrerem no mar é um sinal de uma grande falta de civilização, para um país que se diz civilizado."
Trazendo à tona um assunto importante de maneira singular e delicada, "Terra Firme" gera discussões, e ao final nos parece que soluções estão longe de acontecer, infelizmente.

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