"Para se entender a cultura de um país você precisa ouvir a música que é feita ali... A música sempre conta tudo sobre um lugar."
Depois de terminar seu último filme, "Contra a Parede" - 2004, o diretor alemão de ascendência turca, Fatih Akin, e o músico Alexander Hacke passaram a se interessar cada vez mais pela música de Istambul e resolveram explorar isto em um documentário. A cidade, de mais de 10 milhões de habitantes, fica exatamente entre o ocidente e o oriente, o que causa tal diversidade cultural. Em "Atravessando a Ponte: O Som de Istambul", Akin acompanha Hacke em caminhadas em busca de sons que vão do rock ao hip-hop, mas sem esquecer a tradição local. Para montar 90 minutos do filme, Fatih Akin filmou cerca de 150 horas de material levando cerca de sete meses para editar todas as cenas. Uma das principais cantoras de Istambul, Sezen Aksu, não aceitou ser entrevistada para o filme a princípio, mas acabou se tornando amiga do diretor e fez questão de gravar a trilha sonora do documentário.
O estreito de Bósforo, fronteira da Eurásia, divisor de águas entre ocidente e oriente. O filme passeia pela cena musical da megalópole turca (capital de antigos impérios como o Bizantino e o Otomano). Abordando a música matizada pela influência européia/americana à música de raiz/arábica. Baba Zula, a primeira banda com que se depara no filme, de estilo psicodélico underground ou neo-psicodélico, mescla influências de jazz, rock e sons orientais. Como prefácio dessa jornada musical, Hacke se encontra com a banda no estreito de Bósforo, sem sair nem chegar a lugar nenhum, sem pertencer a nenhum dos dois ao mesmo tempo. Logo depois, ele parte em busca da cena musical do bairro de Beyaglu, no qual, propositalmente, hospeda-se no Büyük Londra Oteli (Grande Hotel de Londres), o mesmo utilizado por Fatih Akin em "Contra a Parede". Beyaglu é considerado um dos cantos mais europeus da Turquia e lá é possível encontrar muito do rock que acontece em Istambul. Ele encontra os músicos de rua Siyasiyabend (nome de um herói nacional mesopotâmico) enquanto cantam e anunciam: "Eles não enxergam nada porque não querem ver (...) e o mundo pertence a eles"; "A música é um dos instrumentos que podem mudar o mundo", "A rua também é um lugar de privação. Você precisa lutar contra isso. Concreto é concreto, sabe?". E, partindo da deixa dos desterritorializados e nômades, ouve-se a música curda. Aynur canta num estilo conhecido como dengbeje formado por influências arábicas, mesopotâmicas e mesmo judias; com histórias que basicamente exprimem a dor e a tragédia do seu povo de origem.
A música tocada numa sauna turca, produz um efeito quase hipnótico sobre o espectador que é levado minutos depois a conhecer Orhan Gencebay e Sezen Aksu, ícones da música popular turca. Passando pela música tradicional turca, pelo rap, rock, heavy metal, música clássica e por todos os sons produzidos por uma grande cidade milenar, Fatih Akin realça a relação entre a música e o espaço geográfico urbano. Ele nos mostra as músicas feitas nas praças, nos bairros, no centro, em casas de shows e em pequenos estúdios. Cada música ou gênero está intimamente ligado com o espaço.
O diretor percorre todo o labirinto urbano de Istambul na tentativa de desvendar, de compreender a música feita por seus habitantes. Pelo fato de ser um documentário, o espectador vai junto, tem a mesma visão da fantástica cidade, juntamente com seus sons. O espectador tem, desta forma, a oportunidade de conhecer a bela cidade e a sua excelente música. E claro, nossos ouvidos agradecem!
A Turquia é um mistério constante, difícil decifrá-la, há contrastes, diversidades, repleta de influências e marcada por sua tradição. É um documentário instigante que abre as portas para um país culturalmente rico em sua essência.
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