Geirr (Fridtjov Såheim) é um amargurado paralítico com fixação em armas, que gosta de ver filmes de guerra, fumar erva, ouvir Johnny Cash, se automedicar e beber uns copos. Com seu cabelo comprido à la anos 70 e o seu negativismo, Geirr parece um daqueles veteranos de guerra do Vietnã. A cadeira de rodas é um elemento novo em sua vida e na de sua mulher, Ingvild (Kirsti Eline Torhaug), da qual ainda não se adaptaram convenientemente. Numa forma desesperada de salvar a relação, ela convida um grupo de apoio local liderado por Tori (Kjersti Holmen), que juntamente com outros aleijados, vão à casa do casal pregar as regras do positivismo e da boa disposição. Estes dois pensamentos totalmente opostos vão sendo confrontados por um dia inteiro. Geirr se recusa a olhar as coisas com um viés positivo e lentamente tenta trazer os membros do grupo para o seu lado, de forma que aceitem de um jeito diferente e "melhor" as situações. Conseguindo isto, livrando-se de terem que pensar positivamente, teria então ensinado a "a arte do pensamento negativo". Com um fino humor negro, trata-se da condição humana e das diferentes formas de encarar a vida. É um filme singular, verdadeiramente hilariante, que de maneira cômica aposta numa profundidade absoluta.
A presença de algumas músicas do mítico Johnny Cash acrescentam uma maior qualidade ao filme. Com ótimas cenas, o longa não deixa de mostrar o lado ruim das pessoas, principalmente quando estão em uma situação difícil, também mostra que mesmo aquelas pessoas sempre otimistas perdem a linha em situações extremas. A arte de pensar negativamente pode nos ensinar que a parte negativa das pessoas podem trazer muito mais tranquilidade, do que ficar apenas maquiando e mascarando os problemas e as frustrações. Revela-se que o otimismo excessivo não faz tão bem, e o sorriso forçado de Ingvild e das pessoas do grupo de nada adiantam. A arte de pensar negativamente é uma alternativa no mínimo interessante, pois faz refletir em como é estar no fundo do poço. Os personagens, assim como os deficientes na vida real não gostam de se sentirem inúteis e inferiores, e principalmente que as pessoas sintam pena deles. Os personagens são bem céticos, Geirr repete várias vezes para eles encararem a realidade, que são incapazes e que deveriam se conformar. Esse pensamento a princípio dói, pois não querem acreditar em seus problemas, porque a terapeuta com seu otimismo tenta escondê-los, e quando o personagem pessimista os expõe, isso causa um impacto muito forte, deixando um silêncio ensurdecedor a todos. Deveras uma grande obra-prima do diretor Bard Breien.
O pensamento positivo hoje em dia está na moda, seja nos livros de autoajuda, programas de televisão, grupos de apoio, existem diversas maneiras de expôr o tal positivismo, que diz gerar energias boas e de que te levará à uma vida melhor e feliz, mas a questão não é tão simples, esse positivismo às vezes vela ainda mais o problema que deve ser encarado de frente, assim, escondemos imperfeições e abrimos um sorriso falso e irritante. A arte de pensar negativamente faz com que sejamos realistas, e principalmente, faz com que lidemos com os obstáculos de frente, sem medo e sem a insegurança do que os outros irão pensar. Acredite, uma pessoa bem-humorada todo o tempo e que acha que a vida é construída através de bons fluídos, no fundo é uma pessoa amargurada e infeliz consigo mesma, com certeza tem mais problemas do que aquela que reage naturalmente se revoltando diante a um acidente, ou algum imprevisto. Afinal, somos seres falhos e não estamos preparados para tudo que nos acontece. Este filme arrasa com essa filosofia pregada pela sociedade.
Com muita ironia e humor negro, "A Arte do Pensamento Negativo" consegue nos fazer mandar o tal pensamento positivo para aquele lugar. Este é o espírito desse incrível filme norueguês!
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