Cheyenne (Sean Penn) é um astro do rock, mas está afastado dos palcos há mais de 20 anos, deprimido e refém de sua própria fama, sua vida se resume a viver de renda, o que não faz o menor sentido para ele. Quando recebe a notícia de que seu pai, que não vê há mais de 30 anos, está muito doente, decide visitá-lo, só que é tarde demais. Decidido a encontrar o algoz que torturou o seu pai durante a guerra, no campo de concentração de Auschwitz, ele saí em busca pelos EUA numa viagem que mudará sua vida para sempre.
Cheyenne é um homem de 50 anos, mas está preso ao passado e mais se parece com uma criança precisando de colo, sua expressão facial e corporal é totalmente travada e se abstém de qualquer responsabilidade. O filme é um road movie em que o protagonista sai procurando um velho nazista que humilhou seu pai na segunda guerra mundial. Ele toma as dores e continua a saga de encontrar esse homem, o que dá um tom vingativo à trama. A história nos carrega junto e percebemos que o rumo do longa não era exatamente esse, mas as circunstâncias em que o personagem passa faz com que tudo mude.
O roteiro é dos italianos Umberto Contarello e Paolo Sorrentino (este também diretor), que faz o personagem ser maior que o filme em si, uma mistura de personalidades, inclusive remetendo muito a figura de Ozzy Osbourne, em seus trejeitos e na maneira de falar.
Sean Penn fez grandes personagens no cinema que ficaram marcados, e esse é mais um que vai ficar pra história. Um velho roqueiro que ainda passa delineador nos olhos e batom nos lábios, seu jeito de falar e sua postura revela um passado regado a drogas. Compôr um personagem assim requer sensibilidade e destreza para que não soe artificial.
Cheyenne não busca um lugar, ele busca entender o porquê de sua dor e o sentido das letras de suas músicas famosas nos anos 80 sempre serem tão dramáticas. A dor de seu pai é passada pra ele, e diante desta é que consegue encontrar o caminho.
A trilha sonora de David Byrne e Will Oldham contorna todas as cenas e seu desenvolvimento, cabendo exatamente na personalidade do personagem. Algumas questões são deixadas de lado, como a tentativa de Cheyenne juntar dois jovens solitários, pelo menos gostaria de saber o que houve, mas isso é que faz do filme um exemplar diferente e também estranho.
"Aqui é o Meu Lugar" tem um ritmo lento, mas compensa pela sua excentricidade, a elaboração do personagem foi feita com muito zelo e paciência. O título do filme é a letra de uma das músicas do "The Talking Heads", banda de David Byrne, cujo participa sendo ele mesmo.
As dores, as frustrações, temos que ir de encontro a tudo isso, senão ficamos parados continuando a viver de modo cômodo, com uma vida tediosa e sem sabor. É uma trama construída aleatoriamente e precisa ser apreciada em todos os seus detalhes.
"Tem algo errado aqui, não sei o quê, mas tem", diz Cheyenne o tempo todo.
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