"A Metamorfose" (2002) é baseado no conto de Franz Kafka, publicado em 1915, esta obra ficou muito conhecida e é um dos textos mais estudados e citados. A adaptação para o cinema não ficou menos angustiante do que o livro e ao mesmo tempo de uma beleza fora do comum.
Antes de mais nada é bom salientar que este filme, talvez, agrade aos que leram o livro e entendem o estilo de Kafka, onde questiona-se a existência humana diante a acontecimentos negativos sem ao menos aproveitar a situação ou poder sair dela, então temas como a solidão, paranoia, perseguição, estão inseridas nas obras deste genial escritor. No fundo os protagonistas nada mais são do que a exteriorização do próprio Kafka, expondo seus medos diante ao mundo, sua solidão interior e a dificuldade de se relacionar com a família.
A história começa quando numa manhã, ao acordar para o trabalho, Gregor vê que se transformou num inseto horrível, com um dorso duro e inúmeras patas. A princípio, as suas preocupações passam por pensamentos práticos relacionados com sua metamorfose. Depois, as preocupações passam para um estado mais psicológico e até mesmo sentimental. Gregor sente-se magoado pela repulsa dos pais perante a sua situação. Apenas a irmã se digna a levar-lhe a alimentação, mas mesmo assim a repulsa e o medo também começam a se manifestar. A metamorfose de Gregor vai além da modificação física. É sobretudo, uma alteração de comportamentos, atitudes, sentimentos e opiniões. Gregor passa a analisar as coisas que o rodeiam com muito mais atenção. Outra metamorfose ocorre no seio familiar: o pai volta a trabalhar, a irmã também arranja um trabalho e passam a alugar quartos na própria casa onde habitam. As atitudes dos pais diante ao filho retrata a ideia que este era apenas o sustento da casa.
A metamorfose de Kafka não conta apenas a história de um homem que se transformou num inseto. É um alerta à sociedade e aos comportamentos humanos, principalmente o desespero do homem perante o absurdo do mundo. Interessante perceber que em nenhum momento Gregor se dá conta realmente que se transformou, apenas observa seus novos membros, órgãos e hábitos, mas com o tempo se acomoda na nova condição sem efetivamente entender no que se tornara.
Valerin Folkin é um aclamado diretor de teatro russo, e nos oferece esta adaptação única do conto, o ator Yevgeni Mironov nos presenteia com uma interpretação magnífica, toda a transformação é colocada sobre sua expressão corporal e facial, sem utilizar efeitos, a mudança é inteiramente teatral. Não conseguimos tirar os olhos de Mironov. Muito minimalista em termos de gestuais, e devido os atores serem de teatro todas as expressões são expostas exageradamente, intencionalmente, claro.
A linguagem e a estética são o diferencial, e para quem gosta do universo kafkiano é obrigatório que se assista "A Metamorfose".