Páginas

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Gigante (Handia)

"Gigante" (2017) dirigido pela dupla Aitor Arregi e Jon Garaño (Loreak - 2014) é de um apuro e requinte inenarrável, uma bela e triste história em tom mágico permeada por uma delicadeza ímpar.
A verdadeira história de Mikel Jokin Eleizegi Arteaga, mais conhecido como "O Gigante de Altzo". Este homem, que viveu no século XVII, media mais de dois metros, sofria de gigantismo e não parou de crescer até a sua morte. Mikel alcançou grande popularidade e chegou a viajar pela Europa, sendo exibido para pessoas famosas como a rainha Elizabeth II da Espanha, Luis Felipe da França e a rainha Victoria do Reino Unido.
Somos introduzidos em Altzo, uma província do País Basco no séc. XVII, uma época difícil e cheia de conflitos políticos, o pai, um simples camponês precisa escolher um dos filhos para servir e é Martin (Joseba Usabiaga), o filho mais velho que vai enfrentar a guerra civil, magoado com seu destino tempos depois em combate sofre com a perda dos movimentos de seu braço direito, ao voltar para casa se depara com seu irmão Joaquin (Eneko Sagardoy), que para sua surpresa está imenso, ele sofre de gigantismo e não há nada que o pare de fazer crescer. Martin fica remoendo a escolha do pai, o que lhe tirou grande parte de seus sonhos, como ir embora para a América, a situação precária da família os deixa atados no lugar, a agricultura não está numa fase boa e a única alternativa para ganhar dinheiro termina sendo Joaquin, que aceita ser exposto para a população. A narrativa se desenrola em capítulos nos aprofundando em seus personagens e alternativas que encontram para superar a crise, não demora para que Joaquin ganhe fama e comece a viajar pela Europa, inicialmente não se sente bem, mas não há outro modo para ganhar a vida, já que todos estão impossibilitados com suas deficiências, Martin não diz muito, está sempre contemplando a realidade e sonhando com um possível futuro. Depois de muito viajarem o gigante suspeita do empresário e pede para que o dinheiro seja dividido, Martin sempre manda sua parte para o pai, o que mais adiante acaba salvando a fazenda, já que Joaquin guardava o seu na mala e um dia na estrada foram roubados, era bastante dinheiro e esse foi o início da decaída, pois os tempos também estavam se modificando e pedindo novidades, o gigante não impactava como antes e nenhum número satisfazia o público. A modernidade batia à porta e Martin cada vez mais queria estar longe daquelas terras, mas com a compra da fazenda e o irmão adoecendo se sentia melancólico por ter que ficar. Os personagens possuem variadas camadas e surpreende-nos com o desenrolar, Martin é um homem calado que nos diz tudo com seu olhar, já Joaquin realmente expõe todas as suas agruras, sendo até violento em determinadas partes. 

A estética e a narrativa carregam um tom de fábula, uma poesia terna e triste que denota as mudanças que ocorrem nos personagens devido as transformações ao redor, seja política ou social; a solidão impera, por mais que os irmãos estejam juntos há uma névoa que os impede de alcançar qualquer êxito e se sentirem satisfeitos, Martin possui máculas, desde o dia em que seu pai o escolheu, depois a deficiência em seu braço o impedindo de trabalhar, preso a uma vida no campo, os sonhos quebrados, e é assim com Joaquin também, que está preso a sua doença, e que por ironia deu alguma chance de sobrevivência para sua família. Por mais vagaroso que o ritmo possa ser a história traz sentimentos valorosos ao espectador. Outro ponto a se destacar é o respeito às culturas, tanto a basca, como quando eles vão para vários países durante as apresentações e sempre é mantido o idioma local, é um elemento que faz toda a diferença e caracteriza zelo pela produção. 

" - A capacidade de se adaptar é o patrimônio mais importante do ser humano. 
- Bem, eu acho que é o contrário. Que é a nossa qualidade mais deplorável."

"Gigante" mistura o real e o onírico, o belo e o triste, o rude e o afetuoso, traz personagens complexos que se modificam ao longo, e por isso nos instiga a pensar em diferentes questões. Uma obra que carrega uma narrativa emocional e um visual sombrio arrebatador.

10 comentários:

  1. História dolorosa.

    Não conhecia este filme.

    Abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Recomendo muito. Está disponível na Netflix.

      Excluir
    2. ÓTIMA EXPLICAÇÃO DO FILME. Obrigada. Gostei dos atores, da composição dos personagens ("sofri" com a tristeza e a melancolia de Joaquim...), da fotografia, amo filmes baseados em fatos reais. A cena final, abraçados na nevasca foi demais!

      Excluir
  2. Lindo, sensivel, rodeado de questionamentos familiares e comportamentais.

    ResponderExcluir
  3. O olhar triste de Joaquin transmite um sofrimento interior e nos emociona.. .excelentes atores sensíveis em suas apresentações. ..

    ResponderExcluir
  4. Gostei muito do filme, contrário do que diz a crítica náo tem nada de ''fábula'' ou surreal, A história de fato é o que se acontecia naquela época em que familias exploravam seus membros e apresentavam os como aberraçãoes!

    ResponderExcluir
  5. Triste vida de 2 irmãos que são impedidos de realizar seus sonhos. Grande filme!

    ResponderExcluir

SE FOR COMENTAR, LEIA ANTES!

NÃO ACEITO APENAS DIVULGAÇÃO.