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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Corações Famintos (Hungry Hearts)

"Corações Famintos" (2014) dirigido pelo italiano Saverio Costanzo (A Solidão dos Números Primos - 2010) é um drama psicológico intenso e excruciante.
Baseado no livro de Marco Franzoso, "Il bambino indaco", conta sobre Jude (Adam Driver), um americano e Mina (Alba Rohrwacher), uma italiana. Os dois se conhecem, por um acaso, na porta do banheiro de um restaurante e se apaixonam. Rapidamente, eles se casam e vão ter um bebê. Desde o início da gestação, Mina tem certeza que seu filho será uma criança especial. Quando ele nasce, uma luta interna será travada pelo casal por conta das excentricidades de Mina, que pode estar afetando a saúde daquela criança. Uma batalha que afetará, para sempre, essa história de amor. Surpreendente o desenrolar da trama, o início se dá de forma leve e bem-humorada, os dois se conhecendo em uma situação constrangedora no banheiro de um restaurante. Mina trabalha pra embaixada, Jude é engenheiro, ambos solitários e prontos para amar.
A história corre rápido, os vemos apaixonados, curtindo momentos agradáveis juntos e não demora para que Mina engravide, o que os pegam desprevenidos e adiando planos. Um dos últimos instantes felizes do casal será o casamento, pois Mina entra em parafuso em relação ao bebê que carrega, principalmente depois de ir a uma vidente e esta lhe dizer que a criança que espera é um ser índigo, predestinada e especial. A coisa fica feia de fato quando ela decide não ir ao médico para fazer os exames de praxe e em não se alimentar adequadamente. A sua aparência vai se modificando, fica pálida e praticamente esquelética. Jude é atencioso e tenta de tudo para que Mina entenda as circunstâncias, mas ela se nega e quer fazer do seu jeito, o excluindo até de ser pai. Tudo gira obsessivamente em torno de seu filho, mas esse excesso o prejudica, já que sua maneira de cuidar inclui alimentá-lo apenas com legumes que ela própria planta, não o deixar tomar ar puro, além de ninguém poder tocá-lo sem uma higienização exacerbada. Jude muito preocupado um dia leva o bebê escondido ao médico, e este lhe receita vitaminas e nutrientes dos quais estão faltando para seu desenvolvimento normal. Jude começa a alimentá-lo secretamente com papinhas, carnes e leite, enquanto Mina também escondida lhe dá um composto estranho.
A falta de diálogo neste ponto é imensa. Impressionante a mudança drástica da personagem, tanto fisicamente como psicologicamente, sentimos raiva de sua maneira de se portar, e também por Jude não tomar uma iniciativa e levá-la a força para se tratar. Chega um ponto em que torcemos para que ele chame a assistência social. Os dois se tornam rivais e disputam a criança e confunde os espectadores, ora entendemos Jude, ora Mina, que acaba se tornando passiva e imensamente doente. É dolorido vê-la sofrendo tanto, assim como dói ver Jude tentando fazer alguma coisa.

Com o decorrer dos acontecimentos o modo como vemos o casal vai mudando. Uma das coisas mais interessantes destes filmes sobre gravidez é que desmistifica vários conceitos, como o instinto materno, o amor incondicional e todas as maravilhas que pintam em torno de se estar grávida. A adaptação custa, não é de uma hora pra outra, além de que varia de mulher pra mulher. Outra coisa que o filme discute é sobre a desinformação, por exemplo, Mina se torna vegana sem ter uma base, um apoio nutricional.
A tensão vai aumentando aos poucos culminando num final estarrecedor. Mina dá a sensação de claustrofobia, enquanto Jude nos dá a sensação de desespero. É um filme que provoca a mente do espectador, nos deixando a pergunta sobre o que faríamos em uma situação dessas. "Corações Famintos" passeia por alguns gêneros e nos brinda com atuações intensas e inquietantes, uma obra que se revela impressionante resultando e um amontoado de questões.

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