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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Minha Vida Sem Mim (My Life Without Me)

"Minha Vida Sem Mim" (2003) dirigido por Isabel Coixet (A Vida Secreta das Palavras - 2005) é um filme comovente do qual retrata um assunto pesado de maneira sutil.
Ann (Sarah Polley) é uma batalhadora jovem de 23 anos, que foi precoce em tudo na vida, especialmente na constituição de sua família. Foi mãe aos 17 anos, e novamente aos 19, e vive com o sossegado marido Don (Scott Speedman) e as encantadoras filhinhas em um trailer no quintal da casa de sua perturbada mãe (Debbie Harry). Trabalha à noite como faxineira em uma Universidade e, embora seja bastante reservada, tem como melhor amiga uma paranoica companheira de trabalho, Laurie (Amanda Plummer).
Isabel Coixet é uma diretora cujo olhar se volta para os acontecimentos da vida, em seus filmes o foco sempre está nas relações e apesar de alguns assuntos serem difíceis, ela torna tudo muito agradável para quem o assiste. Há uma boa dose de sensibilidade em "Minha Vida Sem Mim", acompanhamos Ann, uma moça que sentiu o gosto da responsabilidade muito cedo, com duas filhas e um marido doce, mas não muito adulto, tem que se virar para poder sobreviver, trabalha limpando uma faculdade à noite e não tem absolutamente tempo para mais nada. 
O filme envolve pela linda narração em off da protagonista que em diversos momentos nos fisga pela grande carga emotiva. O fato é que depois de descobrir que está com um câncer intratável decide fazer uma lista de desejos, e é aí que o filme se desenvolve. Pode parecer clichê, mas não é! A delicadeza da personagem, a maneira como as coisas vão acontecendo dá ao filme um aspecto único. Ann não fez muito da vida e conheceu apenas um homem, seu marido. Dentre os desejos da lista está fazer alguém se apaixonar por ela, não demora para que se envolva com Lee (Mark Ruffalo), um homem triste que foi deixado pela mulher, ele é romântico, introspectivo e sua solidão chega a ser visível, pois sua casa é completamente vazia, há apenas livros. Lee se apaixona por Ann, que descobre um outro tipo de amor. Mesmo que ele não saiba muito sobre sua vida, sente algo muito forte, em dado momento Lee diz: "Quando você olha para uma pessoa, pode ver 50% de quem ela é. E querer saber o resto é o que estraga o mundo."
Observamos Ann e a compreendemos ao não querer contar que está doente, todos ao seu redor percebem seu aspecto, mas ela diz que está com anemia e que suas idas ao hospital consiste em tomar vitaminas, ela vai seguindo assim, com um segredo e uma lista de desejos. Uma das cenas mais bonitas é quando começa a gravar mensagens de aniversário para suas filhas até os dezoito anos, nesse momento as lágrimas são inevitáveis. Outro personagem bem interessante é a mãe de Ann, uma mulher claramente insatisfeita com a vida, e que mesmo tendo ainda beleza e vitalidade, prefere desperdiçar reclamando. Ann também deixa uma mensagem para ela, seu marido e Lee.

Ao longo do filme muitos dos pensamentos de Ann são expostos, realmente ela começa a ver e a se portar diferente depois da descoberta da doença, em um momento ao fazer compras no mercado percebe que ninguém ali está preocupado, no mercado ninguém pensa em morte, além de que compram porcarias que vão matar suas famílias, mesmo que aos poucos, e sabendo disso continuam comprando. Em outra ocasião ela narra que não há tempo para pensar porque diante a vida que leva em que se resume a cuidar das filhas, marido e trabalhar não existe pausa para a reflexão. "Pensar. Você não está acostumada a pensar, quando todas essas coisas acontecem a todo tempo e você nunca tem tempo pra pensar. Talvez esteja tão sem prática que esqueceu como se pensa."
O filme já no início nos presenteia com uma reflexão de arrepiar: "Esta é você, na chuva. Nunca pensou que fosse fazer algo assim. Você nunca se viu como - não sei como descreveria - como uma dessas pessoas que gostam de olhar a lua ou que passam horas contemplando as ondas ou o pôr-do-sol. Deve saber que tipo de pessoas estou falando. Talvez não saiba. Seja como for, você gosta de ficar assim: lutando contra o frio, sentindo a água penetrar na sua camisa e a sensação do chão ficando fofo debaixo dos seus pés e do cheiro. Do som dá água batendo nas folhas e todas as coisas que estão nos livros que você não leu. Essa é você. Quem teria imaginado? Você."

O filme nos faz refletir sobre o que diríamos ou faríamos se fosse conosco, a decisão de Ann em não contar por não querer sofrimento antes de sua partida é acertada mesmo que difícil, ela pensou nos seus familiares, na dor que causaria a eles, em nenhum momento ela se desespera, claro fica triste e com medo, mas não é egoísta, ela deixa com que todos ao seu redor veja como os ama e vai preparando o depois, seja com as fitas, ou tentando deixar lembranças boas. Ter os últimos momentos em um hospital é inconcebível, por isso vai vivendo se dedicando as filhas, incentivando o marido, e até pensa em deixar alguém já em seu lugar para cuidar deles, então se aproxima da vizinha e fica sonhando que ela poderia ocupar o seu lugar, a convida para jantar e ali deitada debilitada fica imaginando sua vida depois que for. 
"Minha Vida Sem Mim" é um filme de essência, reflexivo e que apesar de ser um assunto muito aflitivo, consegue ter delicadeza.

"Eu rezo para que essa seja a minha vida sem mim. Você reza para que seu amor acabe amando outra mulher e procure aproveitar a vida um pouco, só um pouquinho, seria divertido. Para que procure gostar mais das coisas. Você reza para que tenha momentos de felicidade tão intensa que faça todos os problemas parecerem insignificantes. Você não sabe para quem está rezando, mas reza. Você nem sequer lamenta a vida que não vai ter porque você já estará morta e os mortos não sentem nada e nem lamentam."

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