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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Casamento Silencioso (Nunta Muta)

"Casamento Silencioso" (2008) do diretor romeno Horatiu Malaele é um filme baseado em fatos reais que mistura o lúdico e o cruel de maneira particular. Retratando os efeitos do comunismo numa pequena aldeia romena, ele prima por seguir os moldes do realismo fantástico trazendo de forma diferenciada um fato histórico denso, mas sem nunca deixar de lado a comicidade enfatizando a cultura e a alegria do povo local.
O filme se inicia com uma equipe de TV indo até uma antiga aldeia povoada apenas por mulheres e que atualmente acreditam ser habitada por fantasmas, os repórteres perguntam a história para um senhor, o único homem do lugar, e este com um semblante triste começa a contar. Voltamos então ao passado, precisamente no ano de 1953, num pequeno vilarejo habitado por pessoas alegres.
Maria e Iancu são dois jovens apaixonados que estão prestes a se casar, os habitantes da vila ficam ansiosos pela festa, mas para espanto de todos o prefeito da cidade juntamente com dois soldados anunciam uma semana de luto pela morte de Stalin. Durante essa semana fica proibido qualquer tipo de comemoração. O pai de Maria fica entristecido, pois os familiares vieram de longe e estava tudo pronto para a festa, e é aí que ele tem uma grande ideia. Nas cenas seguintes o que vemos é de uma teatralidade exuberante. O pai da moça reúne todos os convidados dentro de sua casa, arruma uma bela mesa com diversas comidas, bebidas, e seguem comemorando em silêncio. Tudo muito contido, a comunicação se dá puramente por expressões faciais, gestos e sussurros. Primeiro eliminam os talheres e comem com as mãos, depois o brinde sem tocarem os copos, os músicos fingem tocar, as crianças ficam num canto amordaçadas, e a dança dos noivos que é o ponto que nos dá aquela noção de que o que estamos vendo não é uma comédia. A exata sensação que este longa passa é de um riso seguido de silêncio, de quando rimos no momento errado e ficamos constrangidos.

Os personagens têm ares fabulescos, há os beberrões, o louco, a menina duende, o anão, o anjo, entre outros, todos interpretados com total irreverência. A grande cena do filme sem dúvidas é a comilança que acontece no mais absoluto silêncio, os ruídos inevitáveis não demoram a acontecer, o que deixa tudo muito divertido. O que dizer do momento em que o noivo levanta e murmura: "um brinde à nossa amizade", como ninguém entende nada, a ideia de passarem o que ele disse de ouvido a ouvido surge, o chamado "telefone sem fio", assim a frase inicial vai se transformando em coisas surreais e super engraçadas.
A ironia que permeia o longa é uma crítica inteligente, a passividade que é quebrada em determinado momento mostra que mesmo tendo duras consequências, principalmente para as mulheres, eles tiveram a força de interromper o silêncio e dar vazão ao que eles eram de verdade, um povo feliz.

O filme retrata sofrimento, mas de maneira leve e com um humor bem peculiar, a alegria mesmo sendo silenciada é muito evidenciada, e o final é a grande apunhalada, voltando aos tempos atuais, enquanto os repórteres riem ao entrevistar a senhora na aldeia toda destruída, ela repete: "O que mais vocês querem tirar de nós?" A torrente de sentimentos é inevitável e é impossível não nos fazer pensar na quantidade de vidas que foram caladas.

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