Páginas

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Nebraska

Alexander Payne é um diretor que sempre é posto de lado pela crítica, mas sua filmografia ao meu ver é muito boa. Para citar alguns: "Eleição" (1999), "As Confissões de Schmidt" (2003), "Sideways" (2004) e "Os Descendentes" (2011). São filmes aparentemente simples e que fluem muito calmamente, além de ter um humor diferenciado. "Nebraska" (2013) segue esse ritmo, mas possui um algo a mais que com certeza o tornará sua obra-prima.
Woody (Bruce Dern) é um velhinho não muito simpático e cuja cabeça não ajuda mais. Ao receber um panfleto que diz que ganhou 1 milhão de dólares decide colocar o pé na estrada e seguir até Lincoln, onde poderá receber o prêmio, David Grant (Will Forte), filho de Woody sabe que não existe dinheiro algum, mas decide levar seu pai até lá mesmo contra a vontade do restante da família. Woody é um homem fechado, mas no decorrer da história percebemos a grandeza de seu coração, ele foi um homem muito bom e que inclusive, por muitas vezes foi passado pra trás. Seu pensamento está fixado neste prêmio imaginário, ele só quer comprar uma caminhonete nova e um compressor de ar. O rumo da viagem muda quando Woody sofre um acidente e tem que ficar hospedado na casa de alguns parentes. Muito bom os diálogos nesta parte, são bem soltos e aos poucos descobrimos mais sobre este homem.
Woody veio de uma família de fazendeiros, é um trabalhador que serviu a guerra como mecânico, da qual retornou falando quase nada. Isso fez com que deixasse a desejar na relação com os filhos. A frustração o tornou num alcoólatra e consequentemente deu muito trabalho para sua esposa Kate (June Squibb), uma senhora histérica que não deixa de reclamar por um instante. Muito importante ressaltar a linda e cativante atuação de June Squibb, sem papas na língua ela toma conta do que é seu, ela tem um jeito durão, mas ameniza com uma boa dose de humor e amor a sua família.
A fotografia em preto e branco só evidencia a melancolia, ali naquele lugar parece já não existir vida. Woody na verdade segue em busca de si mesmo, e David entende que necessita passar esse tempo com o pai, afinal ele a qualquer momento pode morrer. A teimosia é latente neste filme.
A viagem de Woody e David faz com que pai e filho se conheçam um pouco. A delicadeza de David é linda. Quando Woody diz que quer comprar um compressor de ar e uma caminhonete, e o restante do dinheiro seria para David e seu outro filho Ross (Bob Odenkirk), com certeza é um dos momentos mais emocionantes, é aí que o entendemos. Esse homem trabalhou duro e fez dos filhos homens bons, mesmo estando distante. A cena em que os filhos se unem e pegam de volta o compressor de ar há muito tempo emprestado é bonita e também bem engraçada.

Outra cena muito bacana é quando Kate defende Woody contra os parentes que querem uma parte do suposto prêmio. É, antes de saberem do prêmio trataram Woody com muita hostilidade, mas ao saberem do dinheiro, passou a ser querido por todos. O fator velhice ajuda, muitos aproveitam disso para se beneficiar, os julgam incapazes de pensar, mas Kate não poupa ninguém com suas palavras.
"Nebraska" é daqueles filmes que inevitavelmente mexem conosco, a simplicidade é só aparente, ele se desenrola calmamente dando tempo para que um sentimento se desenvolva e se transforme. Woody se sentia um homem abandonado, não existia mais nada em si, até que o desespero bateu e se apegou no "prêmio". David soube lidar com a situação com muita paciência e deu ao pai e a si mesmo momentos inesquecíveis. Ao final quando Woody dá uma olhadela para David dentro da caminhonete, com certeza nesse instante sentiu orgulho do filho.

O filme nos faz pensar na velhice e no quanto a sociedade os consideram descartáveis. Nem todos têm a paciência de David, infelizmente. É um filme extremamente sensível e verdadeiro!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

SE FOR COMENTAR, LEIA ANTES!

NÃO ACEITO APENAS DIVULGAÇÃO.