"O Clube" (2015) dirigido pelo chileno Pablo Larraín (No - 2012) é um filme sério que coloca em evidência a hipocrisia da igreja católica.
Um grupo de sacerdotes vive em uma casa na costa chilena, onde ficam sob cuidados de uma freira. Mas o que será que os levou até ali, praticamente no meio do nada, onde o vento sopra forte frequentemente? Quando um novo sacerdote muda-se para lá, um homem começa a lhe fazer fortes acusações. O filme adentra impiedosamente no passado sombrio desses servos de Deus e revela contradições da Igreja Católica.
A história de forma introspectiva nos mostra que a igreja é um meio fechado com suas próprias regras e que pela imagem é capaz de qualquer coisa. A sensação que o filme provoca é de um nó na garganta, um desconforto enorme.
O clube do título se refere a uma casa à beira-mar que abriga sacerdotes que estão banidos de suas funções por conta de crimes cometidos, por exemplo, a pedofilia. Com a chegada de um novo padre descobrimos isso, mas este nem se acomoda e já se desespera ao se deparar com uma situação constrangedora, afinal mexe com a sua moral. Um jovem começa a gritar detalhadamente no portão da casa que foi molestado por ele, o desfecho disso desencadeia numa investigação partindo de um outro padre que aparece na história. Padre García (Marcelo Alonso) é jovem e está decidido a fechar a casa, pois os padres ali mais parecem estar em um spa do que pagando seus pecados. Ele entrevista um por um e é aí que conhecemos os crimes cometidos. O roteiro vai jogando verdades assombrosas e revelando a complexidade humana.
A freira Mônica (Antonia Zegers) que cuida da casa é mais uma figura de ambiguidades, ela vai da resignação à crueldade. Outra atuação de peso é de Alfredo Castro como padre Vidal, um misto de sentimentos surgem e ao final nem sabemos o que pensar, a briga com os seus próprios desejos e a obscuridade em torno disso. O filme se desenrola numa atmosfera nublada, não há luz, apenas a penumbra, o que reflete o estado de cada um deles.
Impressionante e repulsivo ver que esses padres não se arrependem de nada, ao contrário, por muitas vezes eles colocam de forma até bela o ato sexual com uma criança, é nojento em algumas partes o como conseguem justificar seus podres atos. O personagem que aparece no início do filme acusando o padre recém-chegado narra minuciosamente o como foi abusado, e o mais pertinente é que ele diz que foi pelo tal padre que conheceu o amor, que se sentia mais perto de Deus.
"O Clube" é um filme pesado e claustrofóbico, porém necessário, já que coloca diante do espectador verdades sobre essa instituição religiosa, toda a sujeira e o como certos padres agem em nome de sua suposta fé para dar vazão ao seu lado mais sombrio e perverso.
É um trabalho primoroso de direção, a fotografia é de tirar o fôlego e compartilha a todo momento com o contexto da história, além de atuações fortes e tensas. O assunto não é novidade, mas é importante que cada vez mais se coloque em evidência tais barbaridades e se quebre a "política do silêncio" que envolve a igreja católica.